quinta-feira, 10 de agosto de 2017

AMANTES VIRTUAIS

Amantes virtuais
Os relacionamentos virtuais já se institucionalizaram no mundo interligado por computadores. E se para os solteiros, a Internet é um Santo Antônio casamenteiro pós-moderno e, diga-se de passagem, prático e objetivo, para os casados ela se transformou numa tentação cada vez mais acessível. Escondidos no limbo entre o mundo real e o virtual e camuflados pela falta de contato físico, os amantes virtuais tornam a possibilidade de dar algumas escapadinhas mais próxima da realidade e um pouco mais distante da culpa. Mesmo que para quem esteja do lado oposto da tela, com os olhos distantes do que acontece nas salas de bate-papo, as coisas não sejam tão simples assim, conforme, nós imaginamos.
Para a aprendiz Jornalista Washington lima, não existem fronteiras entre o mundo virtual e o real. "Não dá para separar o que acontece num chat, do mundo aqui fora. Quem está ali é alguém de verdade ou, no mínimo, uma ideia de verdade", acredita. "Um amigo meu tinha tido um sonho erótico comigo e resolveu me contar pelo ICQ.
Por mais que eu não estivesse incentivando a coisa, eu também não estava fazendo nada para ele parar. De acordo, com as diversas Enquetes formuladas, foi a minha pessoa quem pediu pra ele contar, porque nessas horas a curiosidade é forte", lembra. No entanto, ela garante que se encontrasse uma conversa desse tipo no computador do namorado, não conseguiria segurar os cachorros e os bichos. "Me sentiria traída de uma certa maneira. Entrei na paranoia dele, descobrir algumas coisas, e até cortei um pouco o contato com esse meu amigo. Sei que seria um problema sério", confessa.
A história do empresário famoso, contado por muitos, nas Redes Sociais, Ricardo Moreira, entretanto, colocou à prova a existência dessas fronteiras. Casado, ele caiu na rede por acaso realizando um trabalho para um portal de chats e acabou se envolvendo com uma frequentadora, também casada. "Quando entrei na sala, reparei que era só baixaria, mas numa hora, apareceu uma mulher, na mesma faixa etária que eu, com uma conversa muito interessante e o papo foi fluindo, cada vez mais e mais", lembra. Fluindo e também esquentando.
Até que chegou a proposta. "Ela perguntou se eu queria fazer sexo virtual e, por curiosidade, topei. Lembrei de uma transa legal que eu tinha tido, fui contando e ela ficou excitadíssima", conta. No dia seguinte, os dois estavam lá novamente. "Foi aí que começou o envolvimento. Fizemos sexo virtual novamente e passamos para o Messenger. O contato ficou mais íntimo e passamos também a trocar e-mails", recorda.
Debaixo dessa calorosa troca de bytes, o relacionamento dos dois ia tomando contornos exclusivamente virtuais. Ambos não disseram seus nomes verdadeiros e não trocaram qualquer informação sobre suas vidas particulares. "Sabíamos pouquíssimo um sobre o outro. Não mandamos nem nossas fotos, gostava mais de imaginá-la, não queria saber como ela era de fato", confessa. O que impressiona no caso de Ricardo é o nível de envolvimento que essa história de atração despertou nos dois. "Chegamos ao ponto de fazer sexo virtual – com excitação real – enquanto eu estava no escritório ou enquanto minha mulher dormia na cama ao lado. Ela até comprou um vibrador só pra isso", afirma.
No entanto, Ricardo garante que não tinha a intenção de levar o relacionamento para a vida real. "Tenho um casamento muito bom, estava ali pela novidade da experiência. Consegui impor para mim um limite que me deu o domínio da situação, não tinha vontade de encontrá-la ao vivo. Já ela se sentia atraída por isso, queria me ver e, com os e-mails que trocamos, senti que ela era uma pessoa muito carente", comenta. Ricardo foi se distanciando e o encanto se quebrou, finalmente, quando ela mandou uma foto. "Era completamente diferente do que eu imaginava e toda aquela magia de fantasiá-la, que era o que me excitava, se perdeu", revela.
A psicóloga e professora da Universidade Federal do Paraná Lídia Weber acredita que, na maioria das vezes, as relações na Internet têm um fim em si mesmas. "Durante uma pesquisa minha sobre o assunto, percebi que as pessoas querem mesmo é ter relações virtuais. Recebi até uma proposta de um senhor holandês, de bom nível cultural, para ser sua amante virtual.
A única condição que ele impôs era de que nós nunca nos encontrássemos. Ele era casado, tinha filhos", conta. Segundo ela, o número de pessoas casadas que praticam o Cybersex (Novo termo que tem sido adotado para expressar o ato sexual em um ambiente on-line) e o utilizam como um aditivo para a vida sexual real vem crescendo. "Há até quem entre no chat com o próprio parceiro. Mas, em geral, os homens preferem não contar para suas esposas.
Para eles, é uma traição virtual. Já a maioria das mulheres diz que não gosta, mas se elas não fizessem mesmo o sexo virtual, os homens não teriam com quem fazer", comenta Lídia. E os motivos que fazem tanto eles quanto elas entrarem nesse jogo são os mais diversos. "Vão de insatisfação com o atual relacionamento até a aventura de representar um papel.
Muitos mudam de sexo, de aparência física, de temperamento", afirma o Juiz de Direito Alexandre Rosa, autor do livro "Amante Virtual – (In) consequências no Direito de Família e Penal." Para ele, o relacionamento virtual que começa em chats ou em sites especializados se divide em etapas. A partir do primeiro contato, quando se descobre interesses em comum, começam as trocas de informações pessoais. "Como num namoro, o jogo de sedução, de impressionada-mente e surpresas acontece com um detalhe muito importante:
o 'eu' pode desaparecer a qualquer momento. Em suma, nesta fase, busca-se conhecer o outro, com as limitações próprias, demonstrando-se aquilo que se é ou se quer ser. Quem não pretende um contato físico, permanece nesse estágio. Passa-se a ter um amor platônico, uma ilusão gostosa", comenta Alexandre. É aí que entra uma das principais vantagens da relação virtual: conhecer o outro – ou aquilo que ele se faz ser – de dentro para fora. "Na maioria dos casos, não é a aparência física a primeira coisa que se julga.
A troca de fotos, se acontece, ocorre depois de um primeiro contato verbal", acrescenta Lídia. Assim, evitar um contato físico é uma ótima maneira de satisfazer os próprios desejos apenas com a imaginação. No entanto, a principal questão moral que gira em torno do assunto é a da traição. Será que fazer sexo virtual com alguém pode ser considerado um adultério? "Penso que sim, quando existe um certo envolvimento com quem está do outro lado", acredita Lígia.
"Imagine que uma mulher ou uma jovem mulher está na sala vendo TV e ouve seu marido gemendo e masturbando-se no escritório enquanto 'fala' com uma mulher do outro lado do mundo? O que ela sentiria?", questiona. Ricardo Moreira, confessa que quase entrou em parafuso, queimando neurônios em conflitos pessoais nem um pouco virtuais. "Pensei bastante nisso, mas acredito que não traí. Principalmente porque impus um limite de que aquilo não iria sair da tela do computador", afirma ele com todas as letras.
No caso dele, o próprio casamento saiu lucrando com suas aventuras entre cliques e tecladas. "Canalizei o que estava vivendo no relacionamento cibernético para a vida real e sentia até mesmo mais desejo pela minha mulher. Mas acho que se a foto da amante virtual correspondesse às minhas fantasias, não ia conseguir segurar a onda tão bem", confessa.
 Segundo o juiz Alexandre, uma traição virtual pode ser considerada motivo para o divórcio. "Existem duas percepções sobre a separação. Numa, é preciso um motivo e, no caso da amante cibernética, há o problema da prova ilegal. Na outra, no entanto, se um se sente desrespeitado e não quer mais viver com o outro, ninguém pode obrigá-los a viverem juntos", informa. Outro risco pessoal que se corre nos relacionamentos virtuais é o da chamada cyber- dependência. Principalmente se eles se tornarem uma fuga frequente. "Basta fantasiar, clicar um botão e obter o que se deseja.
Essa intensidade da Internet, associada ao anonimato e à falta de censura – tudo é permitido, os tabus são eliminados e é possível experimentar tudo – faz com que uma simples curiosidade possa se transformar em dependência", garante Lídia. Ela acrescenta ainda que, por mais que o relacionamento virtual possa contribuir para a realidade, o perigo de isolamento, como acontece em qualquer situação de vício e dependência, é iminente. Portanto, o melhor a fazer é evitar soluções virtuais para não se perder do mundo real.

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