Amantes virtuais
Os
relacionamentos virtuais já se institucionalizaram no mundo interligado por
computadores. E se para os solteiros, a Internet é um Santo Antônio
casamenteiro pós-moderno e, diga-se de passagem, prático e objetivo, para os
casados ela se transformou numa tentação cada vez mais acessível. Escondidos no
limbo entre o mundo real e o virtual e camuflados pela falta de contato físico,
os amantes virtuais tornam a possibilidade de dar algumas escapadinhas mais
próxima da realidade e um pouco mais distante da culpa. Mesmo que para quem
esteja do lado oposto da tela, com os olhos distantes do que acontece nas salas
de bate-papo, as coisas não sejam tão simples assim, conforme, nós imaginamos.
Para a aprendiz
Jornalista Washington lima, não existem fronteiras entre o mundo virtual e o
real. "Não dá para separar o que acontece num chat, do mundo aqui fora.
Quem está ali é alguém de verdade ou, no mínimo, uma ideia de verdade",
acredita. "Um amigo meu tinha tido um sonho erótico comigo e resolveu me
contar pelo ICQ.
Por mais que
eu não estivesse incentivando a coisa, eu também não estava fazendo nada para
ele parar. De acordo, com as diversas Enquetes formuladas, foi a minha pessoa quem
pediu pra ele contar, porque nessas horas a curiosidade é forte", lembra.
No entanto, ela garante que se encontrasse uma conversa desse tipo no computador
do namorado, não conseguiria segurar os cachorros e os bichos. "Me
sentiria traída de uma certa maneira. Entrei na paranoia dele, descobrir algumas
coisas, e até cortei um pouco o contato com esse meu amigo. Sei que seria um
problema sério", confessa.
A história
do empresário famoso, contado por muitos, nas Redes Sociais, Ricardo Moreira,
entretanto, colocou à prova a existência dessas fronteiras. Casado, ele caiu na
rede por acaso realizando um trabalho para um portal de chats e acabou se
envolvendo com uma frequentadora, também casada. "Quando entrei na sala,
reparei que era só baixaria, mas numa hora, apareceu uma mulher, na mesma faixa
etária que eu, com uma conversa muito interessante e o papo foi fluindo, cada
vez mais e mais", lembra. Fluindo e também esquentando.
Até que
chegou a proposta. "Ela perguntou se eu queria fazer sexo virtual e, por
curiosidade, topei. Lembrei de uma transa legal que eu tinha tido, fui contando
e ela ficou excitadíssima", conta. No dia seguinte, os dois estavam lá
novamente. "Foi aí que começou o envolvimento. Fizemos sexo virtual
novamente e passamos para o Messenger.
O contato ficou mais íntimo e passamos também a trocar e-mails", recorda.
Debaixo
dessa calorosa troca de bytes, o relacionamento dos dois ia tomando contornos
exclusivamente virtuais. Ambos não disseram seus nomes verdadeiros e não
trocaram qualquer informação sobre suas vidas particulares. "Sabíamos
pouquíssimo um sobre o outro. Não mandamos nem nossas fotos, gostava mais de
imaginá-la, não queria saber como ela era de fato", confessa. O que
impressiona no caso de Ricardo é o nível de envolvimento que essa história de
atração despertou nos dois. "Chegamos ao ponto de fazer sexo virtual – com
excitação real – enquanto eu estava no escritório ou enquanto minha mulher
dormia na cama ao lado. Ela até comprou um vibrador só pra isso", afirma.
No entanto,
Ricardo garante que não tinha a intenção de levar o relacionamento para a vida
real. "Tenho um casamento muito bom, estava ali pela novidade da
experiência. Consegui impor para mim um limite que me deu o domínio da
situação, não tinha vontade de encontrá-la ao vivo. Já ela se sentia atraída
por isso, queria me ver e, com os e-mails que trocamos, senti que ela era uma
pessoa muito carente", comenta. Ricardo foi se distanciando e o encanto se
quebrou, finalmente, quando ela mandou uma foto. "Era completamente diferente
do que eu imaginava e toda aquela magia de fantasiá-la, que era o que me
excitava, se perdeu", revela.
A psicóloga
e professora da Universidade Federal do Paraná Lídia Weber acredita que, na
maioria das vezes, as relações na Internet têm um fim em si mesmas. "Durante
uma pesquisa minha sobre o assunto, percebi que as pessoas querem mesmo é ter
relações virtuais. Recebi até uma proposta de um senhor holandês, de bom nível
cultural, para ser sua amante virtual.
A única
condição que ele impôs era de que nós nunca nos encontrássemos. Ele era casado,
tinha filhos", conta. Segundo ela, o número de pessoas casadas que
praticam o Cybersex (Novo
termo que tem sido adotado para expressar o ato sexual em um ambiente on-line) e o utilizam como um aditivo para a vida
sexual real vem crescendo. "Há até quem entre no chat com o próprio
parceiro. Mas, em geral, os homens preferem não contar para suas esposas.
Para eles, é
uma traição virtual. Já a maioria das mulheres diz que não gosta, mas se elas
não fizessem mesmo o sexo virtual, os homens não teriam com quem fazer",
comenta Lídia. E os motivos que fazem tanto eles quanto elas entrarem nesse
jogo são os mais diversos. "Vão de insatisfação com o atual relacionamento
até a aventura de representar um papel.
Muitos mudam
de sexo, de aparência física, de temperamento", afirma o Juiz de Direito
Alexandre Rosa, autor do livro "Amante Virtual – (In) consequências no
Direito de Família e Penal." Para ele, o relacionamento virtual que começa
em chats ou em sites especializados se divide em etapas. A partir do primeiro
contato, quando se descobre interesses em comum, começam as trocas de
informações pessoais. "Como num namoro, o jogo de sedução, de impressionada-mente
e surpresas acontece com um detalhe muito importante:
o 'eu' pode
desaparecer a qualquer momento. Em suma, nesta fase, busca-se conhecer o outro,
com as limitações próprias, demonstrando-se aquilo que se é ou se quer ser.
Quem não pretende um contato físico, permanece nesse estágio. Passa-se a ter um
amor platônico, uma ilusão gostosa", comenta Alexandre. É aí que entra uma
das principais vantagens da relação virtual: conhecer o outro – ou aquilo que
ele se faz ser – de dentro para fora. "Na maioria dos casos, não é a aparência
física a primeira coisa que se julga.
A troca de
fotos, se acontece, ocorre depois de um primeiro contato verbal",
acrescenta Lídia. Assim, evitar um contato físico é uma ótima maneira de
satisfazer os próprios desejos apenas com a imaginação. No entanto, a principal
questão moral que gira em torno do assunto é a da traição. Será que fazer sexo
virtual com alguém pode ser considerado um adultério? "Penso que sim,
quando existe um certo envolvimento com quem está do outro lado", acredita
Lígia.
"Imagine
que uma mulher ou uma jovem mulher está na sala vendo TV e ouve seu marido
gemendo e masturbando-se no escritório enquanto 'fala' com uma mulher do outro
lado do mundo? O que ela sentiria?", questiona. Ricardo Moreira, confessa
que quase entrou em parafuso, queimando neurônios em conflitos pessoais nem um
pouco virtuais. "Pensei bastante nisso, mas acredito que não traí.
Principalmente porque impus um limite de que aquilo não iria sair da tela do
computador", afirma ele com todas as letras.
No caso dele,
o próprio casamento saiu lucrando com suas aventuras entre cliques e tecladas.
"Canalizei o que estava vivendo no relacionamento cibernético para a vida
real e sentia até mesmo mais desejo pela minha mulher. Mas acho que se a foto
da amante virtual correspondesse às minhas fantasias, não ia conseguir segurar
a onda tão bem", confessa.
Segundo o juiz Alexandre, uma traição virtual
pode ser considerada motivo para o divórcio. "Existem duas percepções
sobre a separação. Numa, é preciso um motivo e, no caso da amante cibernética,
há o problema da prova ilegal. Na outra, no entanto, se um se sente
desrespeitado e não quer mais viver com o outro, ninguém pode obrigá-los a
viverem juntos", informa. Outro risco pessoal que se corre nos
relacionamentos virtuais é o da chamada cyber- dependência. Principalmente se
eles se tornarem uma fuga frequente. "Basta fantasiar, clicar um botão e
obter o que se deseja.
Essa
intensidade da Internet, associada ao anonimato e à falta de censura – tudo é
permitido, os tabus são eliminados e é possível experimentar tudo – faz com que
uma simples curiosidade possa se transformar em dependência", garante
Lídia. Ela acrescenta ainda que, por mais que o relacionamento virtual possa
contribuir para a realidade, o perigo de isolamento, como acontece em qualquer
situação de vício e dependência, é iminente. Portanto, o melhor a fazer é
evitar soluções virtuais para não se perder do mundo real.
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