quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A TOCHA VIRTUAL

FENOMENAL 2014
TOCHA OLÍMPICA É ACESA
                                     
A Estátua, cujo nome oficial é “A Liberdade Iluminando o Mundo”, foi um presente dado aos Estados Unidos pela França. A Estátua foi entregue no dia 28 de outubro de 1886, marcou o primeiro centenário da assinatura da Declaração de Independência dos Estados Unidos e simboliza também um tratado de paz e ajuda mútua entre a França e os EUA que perdura até os dias de hoje.
Para quem nunca teve a possibilidade de visitar a famosa estátua, essa é uma ótima dica. De acordo com o Mashable, os vídeos terão ótima qualidade e levarão ao público uma experiência rara: conhecer uma das vistas mais espetaculares do mundo a partir de sua casa, e sem pagar os três dólares de entrada na estátua, mais os treze da viagem de barco até lá.
A Liberdade sim, o Cristo, de uma certa maneira, não. Há uma crença de que, da mesma forma que a Estátua da Liberdade, o nosso Cristo Redentor tenha sido também presente dos franceses. Presente nenhum: o país pagou pela estátua religiosa.
De acordo com a Wikipédia em português, “ainda hoje”, algumas pessoas dizem, erroneamente, que o monumento foi um presente da França para o Brasil, quando, na verdade, a obra foi erigida a partir de doações de fiéis de arquidioceses e paróquias por todo o país, com o projeto de autoria e chefia do engenheiro Heitor da Silva Costa. 
Da França, vieram apenas uma réplica de quatro metros feita de pequenos moldes, assim como modelos das mãos feitos pelo colaborador Landowski.

Individualidade versus Individualismo
Palavras o vento leva
As últimas palavras do Ayrton Sena, antes de morrer.
- O medo faz parte da vida da gente. Algumas pessoas não sabem como enfrentá-lo, outras - acho que estou entre elas - aprendem a conviver com ele e o encara não como uma coisa negativa, mas como um sentimento de autopreservação.
- No que diz respeito ao empenho, ao compromisso, ao esforço, à dedicação, não existe meio termo. Ou você faz uma coisa bem feita ou não faz.
- Dinheiro é um negócio curioso. Quem não tem está loco para ter; quem tem está cheio de problemas por causa dele.
- Eu sou feliz. Serei plenamente feliz, talvez, se chegar com sabedoria aos 60 anos. De qualquer forma, ainda tenho muita vida pela frente.
- Vencer é o que importa. O resto é a consequência.
- [Morte]. O dia que chegar, chegou. Pode ser hoje ou daqui a 50 anos. A única coisa certa e que ela vai chegar.
- O medo me fascina.
- Meu maior erro? Acho que ainda está para acontecer.
- Não sei dirigir de outra maneira que não seja arriscada. Quando tiver de ultrapassar vou ultrapassar mesmo. Cada piloto tem o seu limite. O meu é um pouco acima do dos outros.
- Mulheres - com elas uma encrenca, mas sem elas não se pode viver.
- Acidentes são inesperados e indesejados, mas fazem parte da vida. No momento em que você se senta num carro de corrida e está competindo para vencer, o segundo ou o terceiro lugar não satisfaz. Ou você se compromete com o objetivo da vitória ou não. Isso que dizer: ou você corre ou não.
-[Ao sagrar-se tricampeão]. Para ser honesto, não me sinto o maior ídolo brasileiro. Não me sinto uma pessoa tão importante assim para merecer uma festa durante uma noite toda no Brasil.

- Vocês nunca conseguirão saber como um piloto se sente quando vence uma prova. O capacete oculta sentimentos incompreensíveis.
- Nunca precisei mostrar que em determinado GP eu estava com uma loira de olhos azuis ou em outro GP com uma morenaça. Quando aconteceu, foi uma coisa natural e nunca para mostrar aos outros que eu sou garanhão e tenho dezenas de mulheres. Se eu tive uma dezena de mulheres, foi para mim mesmo.

- Se você quer ser bem sucedido, precisa ter dedicação total, buscar seu último limite e dar o melhor de si.

- Deus e Grande Deus e forte quando ele quer nao tem quem nao queira

- Uma maneira de preservar sua própria imagem é não deixar que o mundo invada sua casa. Foi um modo que encontrei de preservar ao máximo meus valores.

- O segundo nada mais é que o primeiro dos perdedores

- Eu não tenho ídolos. Tenho admiração por trabalho, dedicação e competência.
· Mais Informação        
- O importante é ganhar. Tudo e sempre. Essa história de que o importante é competir não passa de pura demagogia.
AYRTON SENNA
http://ayrtonsennavive.blogspot.com.br/2013/07/ayrton-comprou-casa-de-angra-dos-reis.html
A Infância de Ayrton Senna EM CONSTRUÇÃO
(Depoimento de Benedito José de Souza - Padrinho de Ayrton)
A cara do Becão iluminou-se quando viu o papagaio cantar e repetir o refrão de uma velha toada do Pantanal:
A cara do Becão iluminou-se quando viu o papagaio cantar e repetir o refrão de uma velha toada do Pantanal:
♫... Chorava o pai, chorava a mãe,
Chorava o filho
Com pena do papagaio... ♫
E logo quis comprar o bichinho. Bem que eu tentei, mandei o dono do papagaio fazer preço, mas era bicho de estimação do caboclo e não deu negócio.
Senti-me um padrinho diminuído na frente do afilhado e tentei consolá-lo
lembrando que a gente estava indo explorar o alto Araguaia durante nossas férias.
Eu tinha um prazer especial em ensinar o Beco a caçar e pescar desde os seus 10 anos. Ele foi um afilhado que ganhei como fruto da amizade feita com o Miltão, o Milton da Silva, pai dele, no fim dos anos 50.
A gente se conheceu numa caçada de capivara e quase ficamos inimigos em vez de compadres. Eu dei um tiro numa capivara, mas o chumbo ricocheteou e acertou na perna direita do Miltão.
Pegou de raspão, só queimou a calça e deixou a canela dele vermelha.
Tempos depois, quando o Miltão me surpreendeu com o convite para ser seu compadre, achei que ele não tinha se esquecido do tiro e perguntei:
- Eu vou ter que ir para São Paulo?
- Claro. Ou vai querer que, eu traga a criança aqui?
Deu-me uma tremedeira. Eu, caipira do serrado, morador de Goiânia, que só viajava pelas matas do Alto Araguaia, ir a São Paulo... Só podia ser vingança do Miltão. Mas fui, que afilhado não se enjeita. Porém não foi daquela vez que ficamos compadres, porque a crisma era da Viviane, e como homem não crisma menina foi a Wanda, minha mulher, quem ficou a madrinha. Mas em plena cerimônia o Miltão bateu no meu ombro e falou disfarçado no meu ouvido:
- Calma que o teu afilhado vem aí. No momento não entendi, mas a Wanda matou a charada na hora. Naquela altura, o Beco já tinha sido encomendado e seria o meu futuro afilhado.
Foi comigo que o Ayrton aprendeu, nas férias, muito de pescaria e caçada e, lógico, de travessuras que eu ajudei ele a fazer. A viagem de mil quilômetros de Goiânia à cidade de Casina, que a gente fazia de avião, era de suspense para o menino.
Um tempo de expectativa, porque para ele bom mesmo era navegar, pilotando a lancha nos 150 quilômetros de Araguaia, de Casina até o acampamento na ponta da ilha do Bananal. Lembro-me das bravatas do Beco como se fosse hoje. Ele tinha um jeito de deixar a gente feliz. Hoje a saudade dele às vezes beira o pranto.
Tinha vez que ele se aborrecia comigo porque eu não lhe dava as linhas de pescar acima do número 50. E com as que ele tinha jamais chegaria à proeza de tirar das águas do Araguaia um piratinga de 2,12 metros, pesando 121 quilos, como me viu fazer. Um peixe daqueles só se arranca do rio com linha grossa, forte, número 100. Era um cuidado aqui do velho Dito, para o Beco não se machucar se fisgasse um peixe muito bravo. Até 10 quilos a linha aguentava depois ela partia e não havia perigo para o menino.
Quanto a dirigir eu não fazia restrições. Ele guiava os carros, pilotava as lanchas do acampamento, mas, por recomendação severa e definitiva do pai, tinha que ficar longe dos ultraleves. O Miltão sabia das minhas proezas com aquele mosquitão. Com ele vivi grande aventuras e sustos ainda maiores. Adorava escoltar os grandes barcos. Araguaia de ultraleve com flutuador. Pousava na água e decolava, exibindo aos navegantes a perícia que, porém não me livrou de quatro quedas.
No ultimo tombo, machuquei a região da fala, o que me deixou meio gago e rindo desse jeito, meio aos socos. O Beco adorava o jipe e adorava a Kombi nas idas e voltas ao acampamento. Num retorno a Goiânia tremeu quando viu a polícia à margem da estrada e me pediu que pegasse a direção. Eu achei graça, porque a policia não era de trânsito, e ainda fiz questão de exibir orgulhoso aos soldados a competência do meu afilhado ao volante.
Nadar era outro prazer que o Beco curtia. Certa vez Ayrton mergulhou por horas nas águas transparentes do Araguaia até laçar um motor de canoa que o Fidélis, outro afilhado meu, tinha deixado cair no rio.
Olha, aquele menino sabia fazer de tudo. O Ayrton era capaz de consertar um carburador de motor de popa, que eu não conseguia em duas horas, em 30 minutos. Até caçar porco-do-mato ele sabia. E não tinha medo. Uma vez fomos fazer uma caçada de catitu, uma espécie de javali menor que só sai da toca de dois modos: Ou a gente usando um espelho para refletir o sol no buraco, ou com mato molhado de urina.
O Becão, moleque, preferiu do segundo modo. Fez uma touceira de ramos, mijou nela e colocou na toca. Mas não funcionou. Ele achou que eu estava lhe passando um trote. O meu capataz foi buscar o espelho do carro e brincou com o Beco:
- Mijo da cidade é Fraco pra tirar catitu da toca. Porém, bastou dirigir o reflexo do sol para o buraco para que os dois porcos saltassem dali. O Becão, esperto, armou a espingarda e deu um tiro certeiro no primeiro, mas o segundo catitu escapou. Depois do abate – Lembro como se fosse hoje -, o menino ficou um tempão olhando o animal morto e me pareceu arrependido da façanha.
O Beco era um companheirão. Numa das voltas do Araguaia para casa, em Goiânia, paramos em Marianópolis, na Belém-Brasília, para almoçar. Eu tinha dinheiro para a gasolina, mas como estava com oito sobrinhos além do Beco, ia faltar dinheiro.
Fiquei meio sem jeito de pedir fiado, mas nem precisou. Como tínhamos um saco de abacaxis fresquinhos no carro, o Beco propôs completar o pagamento da comida com frutas. O dono do restaurante topou e nós tivemos um almoção. No final das férias de 1973 na volta de Goiânia, comecei a fazer planos de trocar as barracas do acampamento por uma casa. Achei que devíamos ter mais conforto nas nossas férias.
Escolhi o local bem na ponta da Ilha do Bananal, perto da cidade de Lago Grande, junto da foz do Rio Beleza. Fiquei acalentando o sonho, até que em 1994 a morada ficou pronta. Tem todo o conforto de que um homem precisa inclusive pista para avião e um requinte especial: um quarto com uma placa que diz “Apartamento do Beco”.
Uma peça de 25 metros quadrados, vedada contra escorpião, lagartixa, mosquitos e outros bichos, construída especialmente para meu afilhado. Pena que ele não teve tempo de conhecer. Mas o Apartamento do Beco continua e vai ficar lá, intacto, às margens do Rio Beleza.
Parte 2
Recém-casados, Milton da Silva e sua mulher, Neide Senna da Silva passeavam por São Paulo traçando planos para o futuro. De repente, Milton para diante de uma vitrine de uma loja onde se encontrava um Kart exposto e diz para a mulher: "Quando nós tivermos um filho, eu vou fazer um igualzinho para ele".
Com o primeiro filho do casal, Milton não poderia pôr em prática o seu desejo. Nasceria uma garota, Viviane, que se formaria em psicologia.
No dia 21 de março de 1960, porém, o casal tem seu segundo filho: Ayrton. Mesmo sendo homem, Milton continuou achando que não seria desta vez que construiria o sonhado kart. O garoto apresentava problemas de coordenação motora, como afirmou sua mãe: "Eu não acreditava que ele fosse normal. Era muito difícil para ele conseguir subir até uma escada com mais de três degraus." Os pais resolveram fazer um eletro encefalograma no garoto que acabou revelando uma criança normal.
Ayrton Senna e a mãe Neyde
Parte 3
(Depoimento de Neyde Senna da Silva - Mãe de Ayrton)
 ”Ainda fazia um calor de angustiar naqueles dias de outono de 1960”. (Neyde Senna da Silva – Mãe de Ayrton) Eu me preparava para ir me deitar quando senti que alguma coisa de anormal estava acontecendo comigo: assustei-me com o incontrolável desejo de urinar. Na época ainda havia muitos tagus e a gente não tinha grandes informações. Tanto que confundi o rompimento da bolsa com a minha micção.
Eram 9h30 da noite do dia 20 de março de 1960. Contei ao meu marido da perda exagerada de liquido e do princípio de cólicas. Tentamos avisar o doutor Carizzatto, velho medido da nossa família e que já tinha assistido minha mãe no meu nascimento, mas não o encontramos. Foi a Antonieta, experiente parteira do médico, que afinal diagnosticou o rompimento da bolsa, quem ordenou que eu fosse imediatamente para o hospital e maternidade Promater. Enquanto partíamos do bairro do Tucuruvi (zona norte de São Paulo), Antonieta conseguiu tirar o medido de uma mesa de pôquer – numa noite de sorte – para me atender.
Como eu já era mãe de uma menina, a Viviane, torcia por um filho. Tudo correu bem e às 2h45 do dia 21 de março de 1960, Ayrton nasceu. Foi o único dos meus três filhos que veio ao mundo de um parto seco (a bolsa já havia se rompido) e, que ironia, justamente ele que seria um campeão do mundo especialista em vencer no molhado.”
O primeiro comentário sobre o meu filho foi feito pela Eunice, minha cunhada, e ele era pouco animado. Ela me disse:
- Zazá (meu apelido em casa), você ganhou um menino. É homem o seu filho.
E sem tomar nem fôlego me alertou:
- Olha, não quero te assustar, mas ele é feio, muito feinho.
Eu tive que rir, nunca esqueci a sinceridade dela e fiquei curiosa para ver o meu filho. Olhei o neném, todo enrugadinho, com o rosto semi-encoberto e só com uma boca à mostra, que me pareceu enorme, mas não tão feio.
O nome foi outro parto. O Ayrton saiu de uma lista de mais de 20 sugestões e só se chegou a um consenso porque já estávamos no último dos dez dias que o cartório estipula como prazo para o registro.
De Ayrton surgiu “Beco”, um diminutivo oriundo da dificuldade da minha sobrinha Lílian pronunciar o nome do novo primo.
O Ayrton sempre foi muito carinhoso com as professoras, acho que retribuía a compreensão delas. Certa vez, acho que aos 12 anos de idade, comprou uma rosa e foi levar à casa de dona Nídia, uma das professoras pela qual ele tinha um carinho especial. Quando nos encontramos, a professora me agradeceu, certa de que a iniciativa tinha sido minha e não do Beco. Surpresa, perguntei a ele:
- Meu filho, por que você quis dar uma flor para a sua professora?
Ele me abraçou e simplesmente retrucou:
- Asshh... Foi saudade, mãe. Eu tive saudade da professora e comprei uma flor para ela.
E depois saiu correndo.
O Beco foi brigão no colégio. Vivia arrumando confusão no pátio, no recreio, ,as era atento nas aulas. Por isso eu aceitava o habito dele só fazer as lições de casa dez ou 15 minutos antes de ir à escola. Levantava cedo e, sem preguiça, resolvia os remas rapidamente, como tudo o que fez na vida. Só quando tinha prova é que eu lhe tomava a lição. Mas ele quase sempre sabia tudo. Não era de estudar muito em casa, nunca foi o primeiro da classe, mas estava longe dos últimos.
Certa vez presenciei um curioso diálogo no café da manhã entre o Ayrton e a Viviane. Ele ficara impressionado com o fato da irmã ter estudado até tarde da noite para uma prova de francês. Quando soube que ela precisava só de meio ponto, acabou a solidariedade. Caiu na gargalhada. Afinal, ele havia precisado de quatro pontos em português e tinha resolvido tudo em meia hora.
A roupa só foi se tornar uma preocupação para o Beco depois da adolescência.
Até então, usava o que lhe comprávamos, sem preferências. Porém, foi um recordista em gastar sapatos. Ou melhor, botas, porque nenhum calçado convencional resistia por mais de 15 dias às suas travessuras.
Duas semanas era o tempo exato para a bota abrir a sola. E eram botas reforçadas, de cano médio e com contrafortes no calcanhar e no bico. Ele fazia teste driver com elas. Calçava-as, armava uma corrida e brecava. Se as botas deslizassem, ele não queria. Tinham que segura-lo. O Beco podia ser sócio da Sapataria Hollywood, uma loja que ficava bem na esquina da nossa rua. O seu Rodolfo, dono da loja, jamais se descuidou da bota preferida do Ayrton. Sempre havia um estoque delas.
Os brinquedos tiveram tudo a ver com o que ele seria no futuro. Primeiro os carrinhos de rolimã, bicicleta... Depois dos 11 anos, foi o Kart. Saía do colégio e ia com o Pedro, nosso motorista, direto para Interlagos.  
Nos sábados, domingos e feriados, corria nos trechos em construção da Avenida Margina do Tietê, com os amigos da época: o Sérgio, o Português e o Jacotinho, todos conduzidos, com seus respectivos Karts, no caminhãozinho do pai. O Beco era tão impaciente que, quando chegava à vez do Fábio, o seu primo, andar no Kart, ele não se continha e ia soltar pandorga.
Ayrton Senna e a irmã Viviane Senna
Parte 3
(Depoimento de Viviane Senna Lalli - Irmã de Ayrton)
Eu já tinha procurado meu irmão em todos os cantos do clube. (Viviane Senna). Meus avós João e Maria, que todos os sábados nos levavam, juntamente com minha prima Lilian, ao Clube Santana, estavam muito nervosos porque tinham perdido o menino. Não havia mais onde procurá-lo. De repente, o alto-falante anunciou um garoto de 5 anos procurando seus parentes.
Mesmo sendo sós quatro anos mais velha que meu irmão, jamais conseguia acompanhar os movimentos do espoleta. "Espoleta" era um dos vários apelidos pelos quais a gente chamava o Ayrton. No começo foi "Caneco", mas depois ficou "Beco", porque a nossa priminha Lilian não conseguia falar Caneco. E, mais tarde, ele se assumiria como "Becão".
Corremos para a área de alimentação do clube e lá estava o Caneco, Beco, Becão em cima do balcão da pastelaria, ao mesmo tempo chorando e devorando um pastel misturado com lágrimas desesperadas.
Pastel era uma das iguarias que consolavam o Ayrton. Eu não esqueço como ele era comilão. A nossa mãe tinha que fazer três escalas obrigatórias no caminho para a escola: uma parada em cada uma das três pastelarias da Rua Voluntário da Pátria, no bairro de Santana. Era divertido ver a exata divisão que o Beco fazia entre a gula e a distância das pastelarias e o colégio.
O Ayrton sempre teve bom apetite, e a rapidez era uma parte acentuada da sua personalidade. Um glutão precavido, pois mesmo quando convidado para um banquete não deixava de degustar antes alguma coisa em casa para se prevenir contra surpresas no cardápio.
Era incrível. Uma vez não consegui ver o filme Brande de Neve e os Sete Anões por causa do apetite do Beco. Bastou à bruxa começar a insistir para que a Branca de Neve comesse a maça envenenada e a fome dele despertou. O Beco insistiu tanto, mas tanto, para a mãe comprar uma maça que, enquanto não saímos do cinema para lhe satisfazer o desejo, ele não sossegou.
O Becão também nunca foi paciente. Batia recordes de lições em casa e na escola. Terminava suas tarefas na aula e depois ficava atazanando os colegas. Não foram poucas às vezes em que a professora o mandou copiar vinte vezes as tabuadas dos 2 até 9, para acalmá-lo.
Foi um menino feioso, cheio de alergias pelo rosto, inquieto e ativo, mas sempre muito ligado na gente.
Parte 4

(Depoimento de Neyde Joana Senna da Silva - Mãe de Ayrton)

O Beco dizia em casa que era o piloto mais antigo da F1 porque tinha começado muito cedo, aos 4 anos. (Neide Joana Senna da Silva). Meu marido Milton tinha uma metalúrgica e resolveu fazer um Kart. Ele gostava de corridas, mas nunca tinha feito um, levou uns 6 meses até terminar.
Dizem que o Kart era da irmã, Viviane, mas nunca foi. Era para o Ayrton mesmo, que sempre gostou de carros. Nos sábados à tarde, o Milton pegava um caminhão da empresa, botava o Kart e os garotos da rua em cima e levava todo mundo para brincar.
Não sei bem o ano dessa foto (a foto exibida nesse post.), mas é da década de 60. O Kart já era o de número 007. Nessa época, a gente morava no Tremembé. A Marginal Tietê ficava perto e ainda não estava toda pronta, tinha trechos asfaltados fechados ao trânsito. O Beco é o menorzinho da foto, mas já corria bastante.
Ayrton Senna com 13 anos e o irmão Leonardo Senna com 7 anos
Parte 5
(Depoimento de Leonardo Senna da Silva - Irmão de Ayrton)
Os seis anos de diferença de idade que me separavam do Ayrton não deixaram muitas lembranças de infância compartilhada (Leonardo Senna). Claro que tenho na memória as peripécias dele no Kart, as quais, aliás, acompanhei sem muita inveja. Mas o Beco era tão ligado ao Kart que cheguei a me arriscar a pilotar uma vez. Foi dentro da metalúrgica do meu pai. O Beco me explicou tudo, mas mal saí e entrei embaixo de um caminhão estacionado. Terminou ali a minha carreira de piloto.
Ayrton Senna com o pai Milton da Silva na Infância
O Ayrton adorava a Fazenda Caraíbas, que nós tínhamos em Goiás. Pequeno ainda, com 7 anos, adonou-se do jipe Wyllis 1967 que havia por lá. Mal alcançava os pedais, mas passava o dia inteiro levando os vaqueiros para todos os cantos da fazenda. Também fazia misérias numa moto Suzuki 180 nas terras da propriedade do Tocantins.
Certa vez ele ficou muito triste porque perdeu o primeiro capacete que eu tinha lhe dado. Na verdade, ficou esquecido dentro de um almoxarifado. Há pouco tempo, ao vender a fazenda, eu o recuperei, e o Sid Mosca, que pintava todos os seus capacetes, fez uma bela restauração dele. A peça agora está no memorial.
O Ayrton aprendia tudo muito rapidamente porque tinha a escola do Kart. E o menino que se inicia no Kart leva uma grande vantagem, pois vai cuidar do físico, abster-se de beber, de fumar, fica longe das drogas. Enfim, vai seguir a filosofia da preparação para competir num esporte muito exigente. Capacita-se a fazer um cavalo-de-pau, se necessário, mas habilitado para evitar acidentes.
O Ayrton sempre encarnou essa filosofia. Levou muito a sério a pilotagem e fez dela sua profissão de corpo e alma. Por isso foi o tricampeão que todo mundo elogia.
Ayrton Senna em uma competição de kart aos 9 anos
Parte 7
(Depoimento de Milton da Silva - Pai de Ayrton)
 Quando ele tinha 9 anos, comprei um Kart oficial. Era muito bonito e fora feito para o Emerson Fittipaldi, já com freios dianteiros. Era muito aerodinâmico. Quando fez 13 anos, levei o Ayrton para competir na categoria de estreantes e novatos. Aniversariou em 21 de março e em julho participou do Torneio de Inverno, em Interlagos. Ganhou as duas provas e o torneio de estreia.
Mas antes disso, ainda aos 9 anos, Ayrton competiu numa prova amistosa de rua, em campinas, São Paulo. Não esqueci que fui eu, e não ele, quem tremeu naquele dia – se é que algum dia ele tremeu. Assustei-me quando vi mais de 30 Kartistas, todos mais velhos. As posições de largada foram definidas por sorteio, cabendo ao Ayrton o número 1. Fiz tudo para ele não entrar na pista. Retirei a inscrição e guardei o Kart. Mas a insistência dele foi tamanha que acabei concordando, só que com uma exigência: não sair na pole position, e sim em último.
Também perdi essa parada. Bom, pensei, seja o que Deus quiser. Eram 40 voltas. Ele largou na frente e foi mantendo a liderança, enquanto eu, nervoso, torcia pela corrida terminar. Já estava na 35ª volta e os demais pilotos aumentavam a pressão, mas ele nem tomava conhecimento: seguia firme, fazendo tomadas, fechando a porta e me fazendo sofrer. De repente, num trecho complicado, um estrondo, a poeira levantou e ele sumiu... Saí correndo para o local, pensando: mataram o moleque. Mas foi só susto. Quando cheguei à curva, ele já estava de pé, sacudindo a poeira e olhando para o garoto que o havia tirado da pista.
Sempre gostei de automobilismo e como o Ayrton era fanático por Kart resolvi me transformar num pai-projetista e construí um Kart para ele. Foi o brinquedo que, com o passar dos anos, acabaria se transformando no lado mais sério da vida dele. Na época, eu tinha a Metalúrgica Universal, no bairro do Tremembé, em São Paulo. Improvisei o projeto com base no que eu via em fotos, e o trabalho, totalmente artesanal, feito peça por peça, levou seis meses, uma eternidade para o Ayrton, que estava contando os dias, ansioso para ter o carrinho.
Nosso primeiro projeto tinha alguma sofisticação: os freios já eram a disco, a direção de cremalheira, banco anatômico, mas o motor foi adaptado de uma máquina de cortar grama de 3 cv. Era normal, portanto, que o Kart tivesse pequenos problemas técnicos. Ficou um pouco alto em relação ao chão, o banco tinha inclinação limitada e a relação entre o motor e a cremalheira (corrente de tração) ficou longa. Uma característica que deixou o Kart com pouca força na arrancada, mas ele chegava a 60 km/h de velocidade final, que o Ayrton atingia sem esforço nenhum, apesar de só ter 4 anos. Eu tinha medo, mas ele pilotou aquele kartinha até os 9 anos sem nenhum problema. 
A gente ia a lugares sem trânsito, como um antigo loteamento na saída de São Paulo da Rodovia Fernão Dias. O Ayrton tinha uma porção de amigos, eu juntava a molecada, colocava os Karts num caminhão e supervisionava a brincadeira nos finais de semana.
Como ele continuava fanático por tudo o que tinha motor, resolvi montar uma oficina completa na nossa casa. Foi ali que ele aprendeu a tornear, a inventar mil e uma no seu Kart. Varava o dia inteiro e, se deixasse, à noite, montando e desmontando os seus Karts. Era difícil fazê-lo se desligar da graxa e mandá-lo para a cama antes da meia-noite.

Eu, como já disse, gostava muito de automobilismo e ele era muito bom nessa arte. Acho que por isso existia uma grande motivação recíproca. Mas havia uma filosofia por trás desse brinquedo: a de que ele extravasasse toda a sua energia de jovem no Kart e não em outras coisas.
O Ayrton, como todos os meus filhos, era teimoso. Herdaram essa "virtude" um pouco de mim e outro tanto da Neyde. Mas isso não impediu que ele refletisse e agisse dentro da lógica para fazer prevalecer o que era melhor para nós. Eu não queria vê-lo piloto profissional, mas ele ficou tão desmotivado trabalhando nos negócios da família que acabei concordando.
Sempre tememos acidentes, mas depois que o Ayrton entrou pra valer nesse esporte tentamos dar-lhe o máximo de apoio. Ajudamos a amadurecer a experiência insistindo para que não queimasse etapas e seguisse a ordem natural da carreira: Fórmula Ford, Fórmula 2000 e Fórmula 3. Aí, como segurá-lo se o moleque foi campeão em tudo e nessa ordem? Chegou a ganhar dois campeonatos simultâneos nas três categorias, o britânico e o europeu.
O Ayrton tinha muita iniciativa. Fez 18 anos e no dia seguinte foi tirar a carteira de habilitação. Foi ele quem descobriu e contratou o Tchê, seu mecânico nos tempos do Kart. 
Parte 7
Teste da Bota
Depoimento de Neyde Senna, Mãe de Ayrton
FOTO: Aos 3 anos, Ayrton (à dir.) batiza as bonecas da irmã

“A Viviane, minha sobrinha Lilian e filhas da minha amiga ficavam brincando nessa casa, que era da minha mãe. Era uma rua sem saída, todos se conheciam. As meninas ganharam bonecas novas e os meninos quiseram batizar. Eles brigavam para ver quem seria padre, meu pai fez uma mesa com docinhos e guaraná, era um sábado à tarde.
Meu pai fotografou. O Beco ficava bravo porque no aniversário dele não tinha bombinhas, pois era em março, enquanto o da Viviane, que era em junho, tinha. Nem sempre a gente comemorava. Mas no aniversário de 4 anos fizemos uma festa.
A gente havia acabado de se mudar, então seria coisa pequena. Mas chegaram dez garotos, depois 20, uma hora o Milton parou de contar. Ayrton foi de porta em porta, convidando gente que nem conhecia.
A gente morou na ladeira da Rua Pedro, no Tremembé. A calçada era em degrau, porque era uma ladeira forte. Ele descia a calçada num carrinho de rolimã e dava um cavalinho de pau antes do degrau. Ia cada vez mais perto. Eu olhava e pensava: ‘Agora cai’. Mas ele não caía. E depois ia ainda mais perto.
Ele nunca quebrou nada, mas vivia ralado. Eu punha pedaços de couro na calça dele, para proteger os joelhos. Os únicos calçados que resistiam eram umas botas, e ainda assim não duravam mais de 15 dias. A gente comprava na Sapataria Hollywood, em Santana. Para experimentar, ele corria na loja e de repente brecava. Se derrapasse, ele não queria. Precisava brecar.”
Parte 8
Na Redação, o destino traçado
Ayrton Senna nos tempos de escola
Na primeira entrevista no departamento de Orientação Educacional do Colégio Rio Branco, em 1970, "Beco" escreveu uma pequena redação onde já se definia como futuro piloto de Fórmula 1.
Isso aconteceu antes mesmo do primeiro título na categoria, conquistado por Emerson Fittipaldi, em 1972. A orientadora analisou a demonstração de impulso automobilístico de Ayrton Senna da Silva como "uma fantasia de criança".
 Parte 9
A pergunta eternizada no folclore família dos Senna da Silva
Milton, Neide e os três filhos sentaram-se à mesa para o café da manhã, na casa confortável no Tremembé, reduto da classe média paulistana. As crianças comiam com pressa. Tinham minutos para sair a bordo de um carro em direção ao colégio de freiras.
A franzina primogênita de 14 anos não camuflava as olheiras. Cruzara a madrugada entre livros e cadernos, decidida a conseguir meio ponto numa prova de Francês e ser antecipadamente aprovada em todas as matérias.
O esforço e a tensão da garota não pareceram comover o irmão do meio, que reagiu com um sorriso maroto e a pergunta eternizada no folclore familiar dos Senna da Silva: "Você ficou louca?" (Surpreso! Por ela estudar tanto por causa de meio ponto), provocou o menino Ayrton, então com 11 anos.
Parte 10
Festa de Aniversário
Parte 11
A poça
Fazia uns dois anos que Ayrton não dava uma festinha de aniversário porque sempre aprontava alguma e, de castigo, não podia dar festa. Quando foi completar 6 anos de idade, disse que naquele ano ele queria uma festa grande. Não adiantava ser uma festinha, tinha que ser uma baita festa.
Como ele tinha se comportado bem nos últimos tempos disse a ele que podia convidar quem ele quisesse...
No dia do aniversário, lá pelas 16h30 a molecada começou a chegar... Tinha menino de todo tipo, tamanho e idade. O Milton começou a contar mas desistiu lá pelo número 30...
Tinha gente saindo por todos os lados.
Milton ensinou a criançada a brincar de ULA NA MULA (Pula-Cela) e foi a maior bagunça.
Mais tarde, depois que todos os convidados tinham ido embora, perguntei para o Beco de onde eram todos aqueles amigos. Com a maior tranqüilidade ele respondeu:
"Na verdade eu não conhecia todo mundo. Eu fui andando pela nossa rua, tocando a campainha e convidando as crianças que moravam lá para minha festa de aniversário."
(D. Neyde Senna, mãe).
Viviane, Leonardo e Ayrton
A maça
Certa vez, levei a Viviane, o Leo e o Beco assistirem ao filme A Branca de Neve e os Sete Anões. A Vivi, mais velha, é que estava louca para assistir ao filme e os dois menores estavam com as caras amarradas. Bem, tudo estava caminhando tranqüilo - até demais -, quando chegou a cena em que a bruxa colocava veneno na maçã para envenenar a Branca de Neve.
"Mãe, quero aquela maçã", pediu o Beco.
"Mais tarde", sussurrei para não incomodar os outros no cinema.
Dois minutos depois, ele me cutucou novamente, e falou mais alto:
"Mãe, quero a maçããã..."
Respondi novamente, bem baixinho:
"Espera um pouco. Depois do filme eu compro quantas maçãs você quiser. Agora, assista ao filme e fica quietinho.
" Mas não fui muito convincente, pois ele começou a berrar dentro do cinema:
"Mãe, quero a maçã agora."
Resultado: tivemos que sair no meio do filme para que ele comesse uma maçã igual àquela..."
(D. Neyde Senna, mãe)
Ele adorava comer desde pequenininho. Eu me lembro que um dia minha mãe nos levou ao cinema para ver Branca de Neve e os Sete Anões. Na cena em que a Branca de Neve pega a maçã ele ficou com vontade de comer maçã e começou a berrar: “Mãe, quero maçã! Eu quero maçã”. Tivemos que sair do cinema e comprar uma maçã para o Beco – era assim que chamávamos o Ayrton. Fiquei louca porque perdi o filme (risos). Mas foi engraçado. Ele tinha cinco anos.
(Viviane Senna, irmã)
Criança Agitada
Era agitado. Às vezes minha mãe achava que ele tinha algum problema na cabeça porque estava sempre correndo e caindo. Vivia com galo na cabeça e roxo na perna. Contrário a mim, que sempre fui tranqüila. Beco também era meigo e carinhoso.
Vencer Sempre
Durante a infância e a adolescência passávamos três meses de férias na praia, com nossos avós. À noite jogávamos buraco e Ayrton sempre queria ganhar. Um dia minha avó foi arrumar a mesa e descobriu cartas escondidas no lugar em que ele se sentava. Ela ficou brava e disse: “Olha só que safado de moleque. Ele quer ganhar de qualquer jeito”. Ayrton falava que o segundo lugar era o primeiro perdedor (risos). Era muito engraçadinho.
Coração Bom
Eu me lembro de que aos oito anos ele viu uma criança pobre e disse: “Ele não deve ter bicicleta e eu quero dar a minha”. Ayrton sempre teve um coração de ouro.
A prima Lilian, Ayrton Senna e a irmã Viviane
Parte 11
Como Surgiu Apelido de Ayrton Senna: Beco
Ele foi primeiro apelidado de Caneco, mas ninguém da família se lembra porque ele ganhou esse apelido. “É um mistério”, dizem eles. Quando eram pequenos, Ayrton e Viviane brincavam muito com uma prima que não conseguia dizer “Caneco” direito, e encurtou para “Beco”. O apelido pegou.
Parte 12
As vitórias no Carrinho de Rolimã
Parte 13
Agitado desde o nascimento
Ayrton bebê nos braços da mãe Neyde 
Parte 14

Os primeiros contatos com o Kart
Parte 15

Oficina de Kart em casa
Parte 16
A Primeira Visita a um Kartódromo
Parte 17
"O Menino Ayrton Marcou Minha Vida" Tchê
Tchê segurando o "42", número que Ayrton usava em seus Karts na infância
Parte 18
As férias em Goiás
Quando criança, durante as férias, Ayrton Senna passava alguns dias na Pousada do Rio Quente (GO).
Junto com sua família, o garotinho brincava, nadava nas cachoeiras e se divertia com os irmãos! 
FONTES PESQUISADAS

MARTINS, Lemyr. Uma estrela chamada Ayrton Senna. São Paulo: Editora Panda, 2001.
MOURA, Marcelo. Ayrton em cena. Revista quatro rodas, São Paulo, Edição 607, Ano 50, p. 210 - 214, Editora Abril, Agosto 2013.
Jornal O Globo
GREENHALGH, Laura; RAMOS, Carlos Henrique. A guardiã do mito. Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,ERT186275-15228-186275-3934,00.html>. Acesso em: 12 de dezembro 2013.
Festa de aniversário. Disponível em: <http://senna.globo.com/memorialayrtonsenna/html_port/pe_p1.htm>. Acesso em: 12 de dezembro 2013.
Isto é
HILTON, Christopher. Tradução de Cláudio Blanc. Ayrton Senna, uma lenda a toda velocidade: Uma jornada interativa. Edição Brasileira. São Paulo, 2009.
Mr. Silvastone. Manchete, São Paulo, Edição Histórica, nº 2530, p. 40 – 45, Março 2004.
Fanpage Oficial Ayrton Senna
Um tributo de Ayrton Senna
1993
01 de Maio de 1994
Segundo ex-assessora, houve tensão sobre a divulgação da morte de Senna
Um dos grandes embates sobre o acidente de Ayrton Senna no dia 1º de maio de 1994, no GP de San Marino, em Ímola, foi se o piloto morreu na pista ou no hospital. Na época, divulgou-se a notícia apenas à tarde, quando o brasileiro já estava no hospital. Porém, nesta quinta-feira, a exatos 20 anos da morte de Senna, a assessora de imprensa do tricampeão da Fórmula 1 na época, Betise Assumpção, fez uma revelação em seu blog. O piloto morreu na pista. E a decisão de só divulgar a notícia depois partiu do chefe da categoria, Bernie Ecclestone. Tudo para não interromper a corrida.
Atualmente casada com Patrick Head, o projetista da Williams do piloto brasileiro, Betise afirma que decidiu contar o que aconteceu naquele dia depois do que leu recentemente na imprensa por conta dos 20 da morte de Senna.
"Não tenho a intenção de apontar dedo ou colocar culpa. Quero simplesmente registrar o que realmente aconteceu, porque eu era uma das poucas pessoas que estava lá. Vivi de perto os acontecimentos daquele dia, na preparação para liberar o corpo, na viagem para o Brasil, no velório e no enterro. Hoje eu vou falar sobre aquela reunião no interior do motohome da FOCA (Associação de Construtores da F1), com Bernie, Slavica (então sua esposa), o Leonardo (irmão do Senna) e eu", escreveu.
Betise conta que saiu dos boxes da Williams ao lado de Leonardo em direção à torre de comando do autódromo em busca de informações sobre o acidente. Encontraram com Ecclestone, que puxou o irmão de Senna pelo braço em direção ao motorhome. Leonardo não falava inglês, então a assessora traduziu o que o dirigente falava. Ao ser barrada, Betise disse que teria de entrar também para ajudar na tradução.
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Lá dentro, Slavica chorava. Ecclestone sentou no braço de uma poltrona e os dois num sofá. O dirigente tinha notícias sobre Senna. Segundo a assessora, Leonardo estava branco. Ao ouvir, em inglês, que o brasileiro estava morto, Betise ficou sem saber como traduzir de forma mais amena a notícia.
                                                                                                 
                 
                                 
"Então, eu me virei para o Leo e, de maneira mais gentil e carinhosa possível, falei: Leo, eu sinto muito ter de te falar isto, mas ele está dizendo que o Ayrton está morto. Leo ficou atordoado. Ele olhou para mim, depois para Bernie. Não disse uma palavra. Tive vontade de abraçá-lo. Ele começou a chorar. A soluçar", escreveu a assessora.
Em seguida, Betise conta que Ecclestone completou dizendo que só iria anunciar mais tarde a notícia para não parar a corrida. Mais uma vez ela traduziu para Leonardo. "Mesmo antes de eu terminar, ele já estava descontrolado, chorando alto e tremendo. Eu realmente não sabia o que fazer. Eu nunca tinha visto uma dor tão crua", escreveu.
A assessora conta que levou alguns minutos para acalmar o irmão de Senna. Ela disse, segurando suas mãos: "Leo, eu realmente sinto muito. Nossa! de verdade. Nem sei mais o que dizer para você, mas uma coisa você tem que fazer. Você precisa se recompor e ligar para seus pais no Brasil. Eles devem estar desesperados e não pode ser eu quem vai dar esta notícia. Eles precisam ouvir isso de você. Tenho certeza de que vai ser mais reconfortante para eles também".
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Betise conta que Leonardo ligou do motorhome. Neste momento, Martin Whitaker, então assessor de imprensa da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), entrou. Ele conversou com Ecclestone. Whitaker tinha dito na sala de imprensa que Senna teve ferimentos na cabeça e tinha sido levado para o hospital. Enquanto o irmão do piloto falava ao telefone, a assessora disse que o chefão da F1 comunicara sua morte.
Whitaker, então, insistiu na sua informação, enquanto Betise dizia que já sabia da morte. Os dois, então, foram para uma sala menor. Lá, ela relatou que Leonardo já comunicara à família. O assessor da F1 voltou a dizer que não falara em morte com a imprensa. Betise, então, retrucou. "Sim, Martin, mas o que estou tentando dizer é que, se você insistir nesta postura, Eu vou ter que sair desta sala e dizer ao Leo que o Ayrton ainda está vivo e, consequentemente, dar ao pai e mãe dele a esperança de que ele possa se recuperar. Uma esperança que não existe", disse Betise.
Segundo a assessora, Whitaker respondeu, categórico: "Betise, ele não está morto. Esta é a informação que estou dando a todos". Ela saiu da sala e contou para Leonardo. O irmão de Senna ligou novamente para o Brasil e falou com seus pais. Betise conta que passou as cinco horas seguintes traduzindo, organizando e transmitindo recados e lidando com as esperanças e dores do irmão de Senna no hospital e da família no Brasil. De acordo com ela, somente quando o médico da F1, Syd Watkins, chegou ao hospital, tudo ficou esclarecido.
"Eu estava com a irmã do Ayrton (Viviane) no telefone me dizendo para rezar, que eu deveria ter esperança. Ayrton era forte. Eu simplesmente não conseguia fazê-los compreender a gravidade da situação. Tirei o telefone da orelha e disse para Syd: é a Viviane. Ela não acredita quando eu digo o quão grave é o estado do Ayrton. Eu não sei mais o que dizer. Você poderia falar com eles. Tenho certeza que vão te escutar. Syd olhou para mim. Ele estava visivelmente triste e com dor. Betise, não há esperança nenhuma. Ele já estava morto na pista (e passou a descrever alguns detalhes de suas lesões na cabeça, que eu não vou escrever aqui em nome do bom gosto e em respeito à sua família e amigos próximos). Eu fiquei muda. Cabeça vazia. Simplesmente entreguei-lhe o receptor".

PALAVRAS DO AYRTON SENNA

In Memoriam: Ayrton Senna.