sexta-feira, 23 de outubro de 2015

VISTO DE VIAGEM, NUNCA +

PASSAPORTE

AGORA BRASILEIROS PODEM ENTRAR EM MAIS DE 60 PAÍSES SEM VISTO.

Estamos com boas notícias! Segundo a matéria do site Portal Administradores, o site de Viagens Mundi fez um levantamento dos países que os brasileiros não precisam de visto. O Brasil e a Geórgia realizaram no último dia 11 de março um acordo bilateral para liberar a entrada de turistas de ambos os países sem a necessidade do visto, permissão legal de entrada em qualquer local estrangeiro. “Porém, fica as suas burocracias referentes a permanência do turista. Isso varia de país para país. Agora sem burocracia (exceto: nos países do Mercosul, onde os brasileiros podem entrar somente com a carteira de identidade).
A não exigência de visto também não significa burocracia zero. Alguns países podem exigir a apresentação de certas garantias, como confirmação de hospedagem, passagem de volta e comprovante de que possui dinheiro suficiente para se sustentar no país durante a permanência. Lembre-se também de que a não exigência de visto é válida para viajantes com previsão de estada temporária (geralmente, o prazo para permanência sem visto é de três meses, mas isso varia de país a país). Entradas para estudo, trabalho ou residência definitiva exigem vistos específicos. Os viajantes de plantão podem embarcar sem medo nos 66 países logo abaixo, mas sempre se precavendo com suas exigências. Segundo o Itamaraty:
África do Sul
Alemanha
Andorra
Antilhas Francesas
Argentina
Áustria
Bahamas
Barbados
Bósnia Guiana
Bélgica
Bolívia
Bulgária
Chile
Colômbia
Coréia do Sul
Costa Rica
Croácia
Dinamarca
Equador
Eslováquia
Eslovênia
Espanha
Filipinas
Finlândia
França
Geórgia
Grécia
Guatemala
Honduras
Holanda
Hong Kong
Hungria
Irlanda
Islândia
Israel
Itália
Liechtenstein
Luxemburgo
Malásia
Marrocos
México
Mônaco
Namíbia
Noruega
Nova Zelândia
Panamá
Paraguai
Peru
Polônia
Portugal
Reino Unido
Romênia
Rússia
República Tcheca
San Marino
Sérvia
Suécia
Suíça
Suriname
Tailândia
Tunísia
Turquia
Ucrânia
Trinidad e Tobago
Uruguai
Vaticano
Venezuela



242 THOUGHTS ON “AGORA BRASILEIROS PODEM ENTRAR EM MAIS DE 60 PAÍSES SEM VISTO.”

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

RESPEITO É BOM, EU GOSTO

  
Muitas vezes, mulheres se privam de liberdades pequenas e simples no cotidiano por receio de sofrer algum tipo de abuso. Confira exemplos
Em março de 2014 uma mulher sofreu uma tentativa de estupro dentro de um metrô lotado na cidade de São Paulo. Com a barbaridade da notícia, veio à tona finalmente todo o assédio (velado ou não) que as mulheres enfrentam diariamente no transporte público por parte de homens imundos que tiram fotos de decotes, bundas e calcinhas, encoxam, apalpam e roçam suas partes íntimas em mulheres desavisadas.
Além do ato abusivo em si, os assediadores ainda criam sites e páginas em redes sociais para postar as fotos e contar os “feitos do dia”. Algumas dessas páginas contam com milhares de seguidores. Revoltada, me peguei refletindo sobre essa situação absurda e sobre todas as pequenas coisas de que nós, mulheres, somos privadas de fazer no nosso cotidiano por medo de sofrer algum tipo de abuso – como ficar tranquila dentro de um de trem, por exemplo.
O problema é que todas as mulheres já ouviram histórias o suficiente para saber que qualquer assédio, por menor que seja, além de ofender e agredir, pode acabar se tornando um estupro. Por isso nós tentamos evitar ao máximo qualquer comportamento que possa dar margem às liberdades por parte de homens na rua. Isso acaba, por sua vez, nos privando de algumas liberdades pequenas e simples. Entenda, não é que nós não possamos fazer essas coisas. O grande problema é o medo do que pode acontecer. E é por isso que, na maioria dos casos, uma mulher pensa duas, três, quatro vezes antes fazer coisas simples como…
1. Ser simpática com homens desconhecidos na rua
Na maioria das vezes, nada de mais vai acontecer se você cumprimentar aquele homem que sempre encontra durante sua caminhada diária com o cachorro, ou o gari que está sempre varrendo a avenida perto da sua casa. Na maioria das vezes, eles vão só responder bom dia de volta e voltar às suas atividades. No entanto, vez ou outra, em resposta à sua boa educação, você vai receber um olhar lascivo de volta, ou um sorrisinho safado, ou um bom dia cheio de energia sexual contida. E por mais inofensivas e abstratas que sejam essas reações, elas sempre assustam e fazem com que a gente acelere o passo.
Quando isso passa a acontecer muitas vezes, você começa a se perguntar se vale mesmo a pena ser simpática. Eu não consegui deixar de tentar ser simpática com estranhos que sempre encontro na rua, mas sempre rola uma certa apreensão e, muitas vezes, após uma breve avaliação do indivíduo, eu simplesmente o ignoro.
Eu já cheguei a passar quatro anos morando em um lugar sem nunca ter cumprimentado um grupinho de taxistas por que passava todos os dias, porque um dia vi um deles dando um olhar lascivo para uma mulher que passava de minissaia e comentando grosseiramente com o colega do lado. Meu namorado da época sempre os cumprimentava com familiaridade. Mas eu perdi a prática e as vantagens da boa vizinhança por medo (e nojo). Parece pouco, mas é uma pequena liberdade que se vai e a gente nem percebe.
2. Sair de casa vestindo o que quiser, independente do destino e do meio de transporte escolhido
Nós lutamos pelo direito de vestir o que quisermos há tanto tempo, mas parece que sempre perdemos a batalha. É sempre o velho discurso: horas, claro que o cara passou a mão em você! Vestida desse jeito! O discurso dói e constrange, mas dói mais ainda ter de aceitar que aparentemente homens são animais descontrolados – e o são com aval da sociedade. Claro que nós temos que lutar pelos nossos direitos e claro que uma saia curta nunca poderia justificar um estupro. Mas estupros acontecem mesmo assim.
Quando eu estava na faculdade, eu usava as roupas que queria para ir ao lugar que bem entendesse. Um dia, no entanto, enquanto esperava o ônibus em um ponto super movimentado da avenida Paulista usando uma minissaia em pleno sábado no auge do verão, eis que sinto que tem alguém me observando. Quando procuro instintivamente o dono do olhar, qual não é o meu choque ao constatar um homem sentado em uma marretinha atrás do ponto, olhando fixamente para mim e batendo uma punheta em minha homenagem.
Aquilo me deixou tão ofendida e tão enojada que nunca mais voltei a usar saia ou short no ônibus ou no metrô. Era mais um pedacinho da minha liberdade que eu estava perdendo sem mesmo perceber. Não é que eu ache que eu provoquei aquilo com a minha minissaia. É só que eu não quero passar por isso de novo.
3. Mandar alguma mala grosseiro na balada ir pastar
…por mais grosseira que a cantada dele tenha sido. É muito comum em baladas uma mulher ser encurralada por alguma cara mala, ou ter que lidar com algum nojento que decide que você deveria agradecer o fato de ele ter escolhido a sua bunda para passar a mão. É mais comum ainda ver o indivíduo ficar repentinamente surpreso, ofendido e agressivo quando você não fica agradecida pela atenção que ele está lhe dando. Basicamente, o cara se transforma de safado-rei-do-xaveco a machão-injustiçado.
Quando adolescente, tive a infelicidade de ser perseguida a noite inteira na balada por uma mala pequena que não aceitava minhas negativas educadas. Quando me irritei de verdade e mandei o cara me deixar em paz, fui brindada com uma série de xingamentos agressivos e obscenos, tanto por parte dele como de seus amigos, que se juntaram em defesa do “injustiçado”. Vai então, sua vaca, frígida! Entre outras frases ofensivas e um empurrão.
Em outras ocasiões, observei o mesmo tipo de palhaçada acontecendo com as minhas amigas. E conforme fui crescendo, percebi que esse era o tipo de coisa que invariavelmente acontecia com todas as mulheres e até tomava tons realmente violentos em alguns casos – como no caso da garota que teve o braço quebrado por um cara que não aceitou bem a rejeição. Aos poucos, eu e minhas amigas fomos entendendo a dinâmica das interações na balada e aprendendo a não acabar a noite se sentindo como um monte de merda.
Aprendemos a nunca andar sozinhas. Inventamos gestos que deveriam servir como sinais para pedir reforços umas às outras, caso a importunação de algum cara não fosse bem-vinda. Inventamos nomes e números de telefone falsos para dar às malas, para que eles fossem embora sentindo que ganharam alguma coisa. Basicamente, para que não nos agredissem, física ou verbalmente.
Hoje em dia, faço tudo isso sem nem pensar. Ao invés de mandar o cara que me encurralou na saída do banheiro e pegou na minha bunda tomar bem no meio do cu dele, que é o que eu realmente tenho vontade de fazer…
…eu sorrio gentilmente me desvencilhando e anuncio que estão me esperando para logo em seguida ser resgatada por umas duas amigas fiéis que já estavam por perto de plantão. Talvez ele baixasse a bola se eu fosse mais incisiva. Talvez. Mas eu não quero correr o risco de ser xingada ou agredida ou forçada a fazer alguma coisa. Eu não quero passar por isso de novo. Por isso eu uso estratégias e sou obrigada a sorrir lisonjeada e me esquivar quando na verdade estou irritada e amedrontada. Eu e mais um batalhão de outras mulheres. E é mais uma pequena liberdade que se vai.
4. Olhar quando alguém chama na rua
Parece realmente idiota, mas recentemente meu marido comentou comigo que eu devo andar realmente distraída pela rua, porque a tia dele já tinha passado por mim duas vezes naquela semana e buzinado e eu não tinha nem olhado. No começo eu fiquei pensando que eu devia estar realmente distraída e me senti meio mal por ter sido tão antipática. Mas aí comecei a pensar sobre isso e cheguei à conclusão que nunca olho quando alguém assovia para mim, chama sem ser pelo meu nome ou buzina. E vasculhando minha memória desde os meus 12 anos até agora consegui entender porque isso acontecia. Simplesmente porque, quando alguém chama na rua, as chances de ser alguém realmente conhecido são ínfimas comparadas às chances de ser um pervertido qualquer com alguma cantada obscena na ponta da língua.
Então eu nunca olho, correndo o risco de parecer extremamente antipática para algum conhecido. Eu e mais um batalhão de mulheres. E é mais uma pequena liberdade que se vai e a gente nem percebe.
5. Conversar com trabalhadores de construção civil na rua
Ok, esse item é bizarro, mas vou explicar. Sempre me intrigou muito o fato de o meu marido saber tanta coisa em relação a ferramentas, construção, encanamentos, fiação elétrica, mecânica – enfim, tudo que é tipicamente considerado como “coisas de homens”. Ele tem mais ou menos a mesma idade que eu, formação e interesses muito parecidos, mas por algum motivo sabe muito mais do que eu como todas essas coisas funcionam.
Um dia desses, depois de ele demonstrar algum conhecimento particularmente absurdo sobre o conserto de alguns canos aqui de casa eu explodi: mas como é possível que você saiba uma coisa dessas? Onde raios você aprendeu isso?! Ele parou para pensar um pouco e disse: ah…eu sempre perguntei muito. Sabe, para caras trabalhando em obras na rua. Para o faz-tudo do prédio…Tinha uma obra do lado do escritório durante muito tempo e eu ia lá fuçar de vez em quando…
Claro, eu sei que esse não é o caso de todos os homens, e eu sei muito bem que eu não sei quase nada dessas coisas por falta de interesse mesmo ou até porque essas coisas sempre foram consideradas de interesse masculino e eu sou menina (da mesma forma que eu sei muitas coisas sobre como tratar as unhas, enquanto meu marido não sabe nada – mas essa é outra discussão). Mas a resposta dele me intrigou. Porque se eu tivesse interesse em como se faz a fundação de um prédio eu procuraria saber mais através da internet ou de livros.  
Nunca que eu iria futricar na obra que está rolando do lado da minha casa. Isso porque nós, mulheres, temos um medo patológico de operários de obras. E isso se explica por anos de assédio verbais dessa classe de trabalhadores que todas nós tivemos que ouvir desde o momento que nossos seios começaram a aparecer por baixo do uniforme da escola (é fato que homens em grupo se sentem mais corajosos para falar merda para mulheres na rua – sejam eles operários de obras, sejam executivos de escritório).
Mulheres não decidem simplesmente parar na rua para trocar uma ideia com um mestre de obras sobre o melhor tipo de telha para aquela construção. Não que eu ache que uma conversa assim seria impossível. Mas eu não consigo deixar de pensar: E se ele achar que você tem outras intenções? E se os colegas dele fizerem algum comentário desagradável? E se depois a desculpa dele for, “mas ela estava dando bola, poxa! ”. Melhor não arriscar. E mais uma pequena liberdade, a de falar com quem quiser sem medo, de buscar informação, de fazer amizades com pessoas diferentes – tudo isso se perde, entre tantas outras pequenas liberdades que se vão todos os dias sem que a gente se dê conta.
Metade dos brasileiros já sofreu assédio no trabalho, aponta pesquisa
Dos 4,9 mil profissionais ouvidos pelo site Vagas.com, 52% disseram ter sofrido algum tipo de abuso sexual ou moral, mas apenas 12,5% das vítimas fizeram denúncia.
VEJA ESTE VÍDEO 
Mariana teve um fax esfregado em seu rosto pela chefe. Adriana foi chamada várias vezes à sala do gerente para que ele falasse de "seus sentimentos" para ela. Luiza resistiu às investidas do supervisor e ouviu que ele "poderia acabar com sua carreira". Marcela foi apalpada pelo dono do bar onde trabalhava. Gustavo recorreu ao psiquiatra por causa da pressão excessiva de seu gerente.
Ao buscar relatos de profissionais que tenham sofrido assédio no trabalho, a reportagem ouviu uma dezena de pessoas sempre sob a condição de que seu nome e da empresa não fossem revelados. A quantidade e velocidade com que os depoimentos surgiram indicam que este é um problema comum no mercado brasileiro, como aponta uma pesquisa feita pelo site Vagas.com e publicada com exclusividade pela BBC Brasil.
Dos 4.975 mil profissionais de todas as regiões do país ouvidos no fim de maio, 52% disseram ter sido vítimas de assédio sexual ou moral. E, entre quem não passou por esta situação, 34% já presenciaram algum episódio de abuso. "Sofri assédio em diversas empresas", diz Mariana, de 30 anos. A primeira foi quando era estagiária. Até hoje, Mariana lembra de como a chefe ficou furiosa quando ela não encontrou o fax que estava caído atrás de uma mesa. Mariana diz que este episódio foi apenas um de uma série. "Ela me tratava muito mal durante toda a semana e, na sexta-feira, me dava um presente para compensar."
Em outro emprego, ela e os colegas tinham de lidar com os frequentes gritos do acionista da empresa: "Viu quanta formiga tem no chão? É de tanto doce que você está fazendo!". Também era comum ouvir pelo telefone que ela tinha 30 segundos para descobrir o que estava ruim em seus relatórios, seguido por uma contagem regressiva: "30, 29, 28...". No caso mais recente, Mariana trabalhava em uma grande empresa farmacêutica, sob um executivo conhecido por pressionar sua equipe e, assim, conseguir bons resultados. "Ouvi de um colega: 'Não posso mais te elogiar. Seu chefe não gosta. Diz que você vai virar estrela'." Ela conta que saía de reuniões chorando "ao menos uma vez por semana". Tinha sua performance elogiada na avaliação anual, mas recebia do chefe um péssimo retorno em particular. "Ele era inteligente. Não fazia nada em público. Preferia me minar e me diminuir psicologicamente."
Após quatro anos e fazendo terapia por causa do trabalho, Mariana decidiu mudar de emprego. "Quando ia trabalhar, tinha dor de estômago e ânsia de vômito. Pensei em virar dona de casa para não passar mais por isso. Tenho medo dele até hoje. No tempo que trabalhei para ele, a equipe toda mudou. Só ele ficou - e acabou promovido.
"'Você precisa saber de meus sentimentos'
O Vagas.com enviou o questionário para 70 mil profissionais de sua base de dados, escolhidos entre os que tinham atualizado seu currículo nos seis meses anteriores e tinham ao menos um emprego em seu histórico. O assédio moral foi definido como "ser motivo de piadas e chacotas, ofensas, agressões verbais ou gritos constantes, gerando humilhação ou constrangimento individual ou coletivo", enquanto o assédio sexual trazia como definição "receber investidas com tom sexual - cantadas, olhares abusivos, propostas indecorosas".
Nos resultados, o assédio moral foi identificado como o tipo de abuso mais comum, apontado por 47,3% dos profissionais que responderam a pesquisa, enquanto 9,7% disseram ter sofrido assédio sexual. Entre os entrevistados, 48% disseram não ter sofrido assédio. Alguns entrevistados declararam ter sofrido os dois tipos de assédio. Mas os resultados mostram que, enquanto o assédio moral foi relatado em proporções semelhantes por homens (48%) e mulheres (52%), o sexual é quatro vezes mais comum entre elas: 80% das pessoas que disseram ter sido vítimas de abuso são do sexo feminino.
Adriana, de 32 anos, foi pega de surpresa pelo assédio sexual, após trabalhar por dez anos para o mesmo chefe, a quem considerava um mentor, na área de tecnologia de uma grande empresa do setor de petróleo e combustível. "Preciso falar dos meus sentimentos por você", disse ele ao chamá-la em sua sala. Segundo Adriana, foi apenas a primeira vez.
"Ele continuou mesmo eu deixando claro que não tinha interesse. Ele me chamava, e eu não tinha como negar, porque poderia ser sobre trabalho. Mas, quando eu chegava, ele fechava a porta e falava que queria me comprar uma joia, me levar para almoçar", diz Adriana, que diz ter suportado a situação por dois anos. "Chorava muito de raiva. Fui para a terapia, fazia massagem, tomava floral, tudo para me acalmar. Chegou a um ponto em que me via fugindo dele. Só acabou quando ele se aposentou."
No entanto, assim como 87,5% das vítimas ouvidas pela pesquisa, Adriana não denunciou seu assediador. "Tinha medo. Não possuía provas, e ele era responsável por me promover ou me mandar embora. Também não confiava no RH. Havia muitos casos de assédio na empresa. E, quando foram denunciados, o RH disse que não podia fazer nada. E a vida da pessoa virou um inferno." Adriana ainda ficou mais dois anos na empresa após a aposentadoria do chefe. Acabou se desligando e mudando de profissão. Hoje, é terapeuta corporal. "Não queria mais ter chefe."
Entre os receios mais comuns entre as vítimas de assédio que não o denunciaram, estão a perder o emprego (39%) e sofrer represália (31,6%). Não se trata de um medo infundado, pois, entre os que denunciaram, 20,1% afirmaram terem sido demitidos e 17,6% disseram ter sofrido algum tipo de perseguição.
Assédio sexual é mais comum entre mulheres, mas 20% dos homens disseram ter sofrido este abuso (Foto: Thinkstock)
Exceção
Neste contexto, Gustavo foi exceção. Ele diz que, após quase um ano sendo "perseguido" por seu supervisor, decidiu abrir um processo contra a multinacional do setor aéreo para a qual trabalhou por quatro anos. Gustavo conta que o comportamento de seu gerente mudou depois de ele levar ao setor de RH da sede da companhia, nos Estados Unidos, sua insatisfação com o plano de carreira da subsidiária brasileira. "Quando ele descobriu, passou a querer minha cabeça", diz Gustavo.
"Começou a me chamar com frequência na sua sala para explicar pequenos atrasos e horas extras, algo que nunca tinha feito. Como todos os funcionários trabalhavam numa mesma sala, as pessoas começaram me perguntar o que estava acontecendo. Algumas até se afastaram de mim para não virarem um alvo também."
Gustavo diz que seu chefe também passou a sobrecarregá-lo de trabalho ou encarregá-lo de tarefas que ele não sentia ser capaz de cumprir com a qualidade esperada, como abrir uma nova área da empresa. "Quando o questionei sobre isso, ele me disse ironicamente: 'Mas você não queria crescer profissionalmente?'", diz Gustavo. "Passei a ter problemas de saúde e a beber bastante. Fui medicado por um psiquiatra, porque não conseguia mais dormir direito."
Em agosto do ano passado, Gustavo decidiu deixar a companhia e abrir um processo contra ela. A primeira audiência será em novembro. "Soube que meu ex-chefe foi afastado por um mês e depois voltou completamente mudado." É um desfecho bastante comum nos casos de assédio que são denunciados, segundo o estudo da Vagas.com: 74,6% dos profissionais que denunciaram o abuso disseram que o assediador permaneceu na empresa.
Problema comum
Para os organizadores do estudo, o alto índice de respostas mostra que este é um assunto urgente no mercado profissional brasileiro. Dos 70 mil questionários enviados para os cadastros no site, 7% participaram, bem acima da média de 0,5% registrada em outras pesquisas. Destes, 98% responderam a todas as perguntas.
"Isso mostra que muitas pessoas são impactadas pelo assédio no trabalho ou têm algo para contar", diz Sylvia Fernandez, que coordenou a realização da pesquisa. "Infelizmente, é um problema bastante comum.
Os profissionais querem que isso seja debatido e que haja consequências, mas ainda predomina a sensação de impunidade." José Carlos Wahle, sócio da área trabalhista do Veirano Advogados, enxerga uma melhora nesta questão no mercado brasileiro nos últimos anos, devido à maior presença de multinacionais no país e à internacionalização de companhias brasileiras. "Está maior presença de grandes empresas, que têm ações em bolsa e prezam por sua imagem, levou a uma maior adoção de bons valores corporativos e um aumento do número de companhias que determinam padrões de conduta e orientam seus funcionários quanto a este tipo de comportamento", afirma Wahle.
Atento seleciona para 2.355 vagas em todo o país
"Também há uma maior percepção por parte dos funcionários em relação a seus direitos. Antes, havia problemas mais urgentes, como o trabalho escravo. Hoje, nosso mercado está mais maduro, o que nos permite discutir o assédio. Isso não quer dizer que é algo raro nem que está perto de acabar. Vem melhorando, mas ainda há um abismo entre a realidade e como deveria ser."

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

O BRASIL DE 1989 E O BRASIL DE 1996 E 2015

BRAZIL DE ONTEM E O BRASIL DE HOJE

Documento Especial - Os Pobres Vão à Praia

Produzido entre os anos 1989 e 1996 para redes de TV aberta, O Documento Especial ia muito além do que normalmente os programas jornalísticos mostravam na TV. A proposta era mostrar a realidade nua e crua, dando prioridade para assuntos polêmicos, guetos, submundos e exibindo cenas fortes. De 1989 a 1996, foi um dos programas mais assistidos na televisão aberta brasileira e acabou por ser uma referência em qualidade de televisão. O Documento Especial ganhou prêmios em todo o mundo, incluindo o Prêmio Príncipe Rainier no Monte-Carlo TV Festival.
 Vídeos de 1990 geram polêmica após arrastões: 'Rio não mudou', diz diretor
'Os pobres vão à praia' foi exibido há mais de 2 décadas na TV Manchete. Reportagem é compartilhada em redes sociais e fomenta discussões.
Televisão verdade
Ao ver o global Profissão Repórter da semana passada, sobre a vida em presídios, me lembrei do Documento Especial, jornalístico que ganhou fama a partir de 1989 na TV Manchete. O programa abordava, com irreverência carioca e de forma bem crua, temas polêmicos, como violência, sexo, drogas, sexo, religião e.... sexo. Tinha uma edição tosca, mas foi um caso de sucesso de jornalismo investigativo. A apresentação era de Roberto Maya (foto), conhecido também por suas atuações em clássicos do cinema erótico nacional.
Uns amigos mais abastados, que têm TV por assinatura em casa, me disseram que o Documento Especial é reapresentado, há algum tempo, no Canal Brasil. Vasculhei no YouTube e encontrei algumas pérolas, como o episódio “Os pobres vão à praia”, considerado pelo antigo diretor do programa, Nelson Hoineff, o mais significativo de todos. A reportagem mostra um grupo de pessoas do subúrbio carioca barbarizando nas praias da zona sul. São cenas de baixaria total. Hoje em dia na TV, algo semelhante só nas sessões do Senado.
Em outro episódio, “Profissão: prostituto”, o programa apresentou, pela primeira vez na televisão, a Noite dos Leopardos, show de strip-tease masculino na Galeria Alaska, reduto gay do Rio. Revelou também como jovens desempregados e sem rumo na vida (talvez algum jornalista estivesse por lá) decidem vender o corpo para conseguir uns trocados.
Chamado de “televisão verdade”, o Documento Especial era uma espécie de reality show da TV brasileira de 20 anos atrás. Com uma vantagem: sem Kleber Bambam e Diego Alemão. Um prato cheio para quem gosta de jornalismo e do lado B da vida.
1990
Pulando pela janela do ônibus, surfando na porta, batucando na lataria, dezenas de pessoas embarcam do subúrbio do Rio rumo a orla da área nobre na base do "calote". As cenas são de episódios do programa Documento Especial, que foram compartilhados milhares de vezes nos últimos dias após um final de semana de arrastões. Não fosse a imagem pixelada, odocumentário gravado há mais de 20 anos poderia parecer de hoje.
No episódio "Os pobres vão à praia"prevalecem opiniões de banhistas da Zona Sul que atacam os "forasteiros". "Sub-raça", diz uma das entrevistadas diante de uma frase que passeia pela tela e avisa: "Cenas de preconceito explícito". A suposta autora da fala, 25 anos depois, se pronunciou em uma rede social e se disse arrependida, dizendo que era alienada (veja abaixo). 
Na internet, as imagens do passado são comparadas a tumultos recentes, com recolhimento de menores em ônibus e a atuação de justiceiros. Nelson Hoineff era diretor do programa "Documento Especial", no qual a reportagem foi exibida no início da década de 90, na extinta TV Manchete. Ele diz que não imaginava o tom premonitório do minidocumentário, mas "sabia que estava fazendo história". O programa, segundo ele, "mostrava um Brasil que não se via na televisão" e que, em certos aspectos, é o mesmo de décadas atrás.
"A gente vê que o Rio não mudou nada. Fizemos programas sobre arrastão, sobre a guerra social, sobre todos esses fenômenos que acontecem, a luta do tráfico, a corrupção dentro da polícia. Algumas pessoas acham que isso começou hoje, mas isso está há dezenas de anos e o documentário é o testemunho disso", afirma. A caixa de e-mails da produtora autora da reportagem, diz Nelson, lotou. Ele pretende ressuscitar os episódios para que, televisionados, discutam questões cíclicas da sociedade — da segurança pública à prostituição.
Entrevistada diz que era 'alienada'
Identificando-se como uma das entrevistadas do programa, uma advogada usou as redes sociais para se retratar. No vídeo, ela chega a dizer que o público da praia era uma "sub-raça".
Em um longo texto recente, diz que era "alienada" e que tem orgulho de ter evoluído. "É importante jogar na cara da sociedade o que ela não quer dizer" (veja o desabafo na imagem ao final desta reportagem).
Apesar da autocrítica, ela diz que o vídeo foi editado para "parecer pior do que é". Na reportagem, a jovem (que teria 18 anos na época, e hoje, 47) apoiava a cobrança de ingresso para entrada na praia. "Não pode tirar o pessoal do Méier, do mangue e levar à praia em Copacabana porque eu não posso conviver com uma pessoa que não tem o mínimo de educação. (...)
É sujeira você pegar uma pessoa que mora em Ipanema, uma pessoa bem vestida, legal, que tem educação e colocá-la na praia no meio de um monte de gente que não tem educação, que vá dizer grosseria, que vai comer farofa com galinha. Vai matar as pessoas de nojo".
Outro entrevistado concorda. "Não sou contra pobre, nem nada. Mas venho para a praia no Pepê (na Barra da Tijuca) porque estou junto dos meus". O G1 tentou contato com a autora dos comentários, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Mulher que se identifica como entrevistada diz que 'evoluiu' e era 'alienada' (Foto: Reprodução/Facebook)
Saiba +