CORA CORALINA
A Casa Velha da Ponte, onde viveu Cora Coralina na Cidade de Goiás
Nasceu em 20 de Agosto de 1889 na Cidade de
Goiás, Império do Brasil. Faleceu em 10 de Abril de 1985, aos 95 anos de idade,
no Estado de Goiâna, Brasil..., de nacionalidade brasileira, teve umas da
ocupações mais importante na sua vida ser poetisa, tendo como prêmios – Prêmio
Juca Pato (1983).
Biografia
Pseudônimo de Anna
Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, adotou o pseudônimo de Cora Coralina, era
filha de Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, desembargador nomeado
por D. Pedro II,
e de dona Jacyntha Luiza do Couto Brandão. Ela nasceu e foi criada às margens
do Rio Assunção. Estima-se que essa casa foi construída em meados do século
XVIII, tendo sido uma das primeiras edificações da antiga Vila Boa (Goiás).
Começou a escrever
os seus primeiros textos aos 14 anos, publicando-os posteriormente nos jornais
da cidade de Goiânia, e nos jornais de outras cidades, como constitui exemplo o
semanário "Folha do Sul" da cidade goiana de Bela Vista e nos
periódicos de outros rincões, assim como a revista A Informação Goiana do Rio de Janeiro, que começou a ser
editada a 15 de julho de 1917. Apesar da pouca escolaridade, uma vez que cursou
somente as primeiras quatro séries, com a Mestra Silvina (Mestre-Escola Silvina
Ermelinda Xavier de Brito (1835 - 1920)). Conforme Assis Brasil, na sua
antologia "A Poesia Goiana no Século XX" (Rio de Janeiro:
IMAGO Editora,
1997, página 66), "a mais recuada indicação que se tem de sua vida
literária data de 1907, através do semanário 'A Rosa', dirigido por ela própria
e mais Leodegária de Jesus, Rosa Godinho e Alice Santana." Todavia,
constam trabalhos seus nos periódicos goianos antes dessa data. É o caso da
crônica "A Tua Volta", dedicada 'Ao Luiz do Couto, o querido poeta
gentil das mulheres goianas', estampada no referido semanário "Folha do
Sul", da cidade de Bela Vista, ano 2, n. 64, p. 1, 10 de maio de 1906.
No jornal Tribuna Espírita - Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1905.
Ao tempo em que
publica essa crônica, ou um pouco antes, Cora Coralina começa a frequentar as
tertúlias do "Clube Literário Goiano", situado em um dos salões do
sobrado de dona Virgínia da Luz Vieira. Que lhe inspira o poema evocativo
"Velho Sobrado". Quando começa então a redigir para o jornal
literário "A Rosa" (1907). Publicou, nessa fase, em 1910,
o conto Tragédia na Roça.
Em 1911, foi para o
estado de São Paulo com o advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas, que
exercia o cargo de Chefe de Polícia, equivalente ao de secretário da Segurança,
do governo do presidente Urbano Coelho de Gouvêa - 1909 - 1912, onde viveu
durante 45 anos, inicialmente no município de Jaboticabal onde nasceram seus seis
filhos: Paraguaçu, Enéas, Cantídio, Jacyntha, Ísis e Vicência. Ísis e Enéas
morreram logo depois de nascer.
Com a morte do
marido, passou a vender livros. Posteriormente, mudou-se para Penápolis, no interior do estado, onde passou
a produzir e vender linguiça caseira e banha de
porco. Mudou-se em seguida para Andradina, cidade que atualmente, mantém uma
casa da cultura com seu nome, em homenagem. Em 1956,
retorna a Goiás.
Ao completar 50
anos, a poetisa relata ter passado por uma profunda transformação interior, a
qual definiria mais tarde como "a perda do medo". Nessa fase, deixou
de atender pelo nome de batismo e assumiu o pseudônimo que escolhera para si
muitos anos atrás. Durante esses anos, Cora não deixou de escrever poemas
relacionados com a sua história pessoal, com a cidade em que nascera e com
ambiente em que fora criada. Ela chegou ainda a gravar um LP declamando algumas
de suas poesias. Lançado pela gravadora Paulinas Comep, o disco ainda pode ser
encontrado hoje em formato CD.
Cora Coralina
faleceu em Goiânia, de pneumonia. A
sua casa na Cidade de Goiás foi transformada num museu em homenagem à sua
história de vida e produção literária.
Primeiros passos literários
Os elementos folclóricos que faziam parte do cotidiano
de Ana serviram de inspiração para que aquela frágil mulher se tornasse a dona
de uma voz inigualável e sua poesia atingisse um
nível de qualidade literária jamais alcançado até aí por nenhum outro poeta do Centro-Oeste brasileiro.
Senhora de
poderosas palavras, Ana escrevia com simplicidade e seu desconhecimento acerca
das regras da gramática contribuiu
para que sua produção artística priorizasse a mensagem ao invés da forma.
Preocupada em entender o mundo no qual estava inserida, e ainda compreender o
real papel que deveria representar, Ana parte em busca de respostas no seu
cotidiano, vivendo cada minuto na complexa atmosfera da Cidade de Goiás,
que permitiu a ela a descoberta de como a simplicidade pode ser o melhor
caminho para atingir a mais alta riqueza de espírito.
Divulgação nacional
Foi ao ter a
segunda edição (1978) de Poemas
dos becos de Goiás e estórias mais, composta e impressa pelas Oficinas
Gráficas da Universidade Federal de Goiás, com capa (retratando um dos becos da
cidade de Goiás) e ilustrações elaboradas pela consagrada artista Maria
Guilhermina, orelha de J.B. Martins Ramos, e prefácio de Oswaldino Marques,
saudada por Carlos Drummond
de Andrade no Jornal do Brasil, a 27 de dezembro de 1980, que
Aninha, já conhecida como Cora Coralina, ganhou a atenção e passou a ser
admirada por todo o Brasil. "Não estou
fazendo comercial de editora, em época de festas.
A obra foi
publicada pela Universidade Federal de Goiás. Se há livros comovedores, este é
um deles." Manifesta-se, ao ensejo, o vate Drummond. A primeira edição de Poemas dos Becos de Goiás e estórias mais,
seu primeiro livro, foi publicado pela Editora José Olympio em 1965,
quando a poetisa já contabilizava 75 anos.
Reúne os poemas que consagraram o estilo da autora e a transformaram em uma das
maiores poetisas de Língua Portuguesa do século XX. Já a segunda edição, repetindo,
saiu em 1978 pela imprensa da UFG.
E a terceira, em
1980. Desta vez, pela recém implantada editora da UFG, dentro da Coleção Documentos Goianos. Onze anos
depois da primeira edição de Poemas
dos Becos de Goiás e estórias mais, compôs, em 1976, Meu Livro de Cordel. Finalmente, em 1983 lançou Vintém de Cobre - Meias Confissões de Aninha (Ed.
Global).
Cora Coralina
recebeu o título de Doutor Honoris Causa da UFG (1983). E, logo depois, no
mesmo ano, foi eleita intelectual
do ano e contemplada com o Prêmio Juca Pato da
União Brasileira dos Escritores. Dois anos mais tarde, veio a falecer. A 31 de
janeiro de 1999, a sua principal obra, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, foi aclamada através
de um seleto júri organizado pelo jornal O Popular, de Goiânia, uma das 20
obras mais importantes do século XX. Enfim, Cora torna-se autora canônica.
Bibliografia da autora
Em ordem cronológica, as obras de Cora Coralina[4]
·
Meu Livro de Cordel, (poesia), 1976
·
Vintém de Cobre - Meias confissões de Aninha (poesia), 1983
·
Meninos Verdes (infantil), 1986 (póstumo)
·
Tesouro da Casa Velha (poesia), 1996 (póstumo)
·
A Moeda de Ouro que o Pato Engoliu (infantil), 1999 (póstumo)
·
Vila Boa de Goias (poesia), 2001 (póstumo)
·
O Prato Azul-Pombinho (infantil), 2002 (póstumo)
Poemas de Cora Coralina
Mãe
Renovadora e reveladora do mundo. A humanidade se
renova no teu ventre. Cria teus filhos, não os entregues à creche. Creche é fria,
impessoal. Nunca será um lar.
Para teu filho. Ele, pequenino,
precisa de ti. Não o desligues da tua força maternal. Que pretendes, mulher?
Independência, igualdade de condições... Empregos fora do lar? És superior
àqueles que procuras imitar. Tens o dom divino de ser mãe. Em ti está presente
a humanidade. Mulher, não te deixes castrar. Serás um animal somente de prazer e às vezes nem mais
isso. Frígida, bloqueada, teu orgulho te faz calar. Tumultuada,
fingindo ser o que não és. Roendo o teu osso negro da amargura.
Poeminha Amoroso. Este é um poema de
amor tão meigo, tão terno, tão teu... É uma oferenda aos teus momentos de
luta e de brisa e de céu... E eu, quero te servir a poesia numa
concha azul do mar ou numa cesta de flores do campo. Talvez tu possas
entender o meu amor. Mas se isso não acontecer, não importa. Já
está declarado e estampado nas linhas e entrelinhas deste pequeno
poema, o verso; o tão famoso e inesperado verso que te deixará
pasmo, surpreso, perplexo... eu te amo, perdoa-me, eu te amo...
Humildade Senhor, fazei com
que eu aceite minha pobreza tal como sempre foi. Que não sinta o que
não tenho. Não lamente o que podia ter e se perdeu por caminhos
errados e nunca mais voltou. Daí, Senhor, que minha humildade seja
como a chuva desejada caindo mansa, longa noite escura numa
terra sedenta e num telhado velho. Que eu possa agradecer a
Vós, minha cama estreita, minhas coisinhas pobres, minha casa de
chão, pedras e tábuas remontadas. E ter sempre um feixe de
lenha debaixo do meu fogão de taipa, e acender, eu mesma, o fogo
alegre da minha casa na manhã de um novo dia que começa.
Coração é Terra que Ninguém Vê. Quis
ser um dia, jardineira de um coração. Sachei, mondei -
nada colhi. Nasceram espinhos e nos espinhos me feri. Quis ser
um dia, jardineira de um coração. Cavei, plantei. Na terra ingrata nada criei.
Semeador da Parábola.... Lancei a boa
semente a gestos largos... Aves do céu levaram. Espinhos do chão
cobriram. O resto se perdeu na terra dura da ingratidão
Coração é terra que ninguém vê - diz o ditado. Plantei, reguei,
nada deu, não.
Terra de lagedo, de pedregulho, - Teu
coração. Bati na porta de um coração. Bati. Bati. Nada escutei. Casa vazia.
Porta fechada, foi que encontrei...
Assim Eu Vejo a Vida. A vida tem duas
faces: Positiva e negativa. O passado foi duro, mas deixou o seu
legado. Saber viver é a grande sabedoria. Que eu possa dignificar. Minha condição de
mulher, aceitar suas limitações. E me fazer pedra de segurança dos valores que vão
desmoronando. Nasci em tempos rudes. Aceitei contradições lutas e pedras como lições de vida e delas me sirvo. Aprendi a viver.
Meu Destino. Nas palmas de tuas
mãos leio as linhas da minha vida. Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino. Não te procurei, não me procurastes
– íamos sozinhos por estradas diferentes. Indiferentes, cruzamos passavas
com o fardo da vida.... Corri ao teu encontro. Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado com a pedra branca da cabeça de um
peixe. E, desde então, caminhamos juntos pela vida...
Tenho consciência de ser autêntica e
procuro superar todos os dias minha própria personalidade, despedaçando dentro
de mim tudo que é velho e morto, pois lutar é a palavra vibrante que levanta os
fracos e determina os fortes. O importante é semear, produzir
milhões de sorrisos de solidariedade e amizade. Procuro semear
otimismo e plantar sementes de paz e justiça. Digo o que penso, com esperança. Penso no que faço,
com fé. Faço o que devo fazer, com amor. Eu me esforço para ser cada dia
melhor, pois bondade também se aprende!
Conclusões de Aninha. Estavam ali
parados. Marido e mulher. Esperavam o carro. E foi que veio
aquela da roça tímida, humilde, sofrida. Contou que o fogo, lá longe, tinha
queimado seu rancho, e tudo que tinha dentro. Estava ali no comércio pedindo um
auxílio para levantar novo rancho e comprar suas
pobrezinhas. O homem ouviu. Abriu a carteira tirou uma cédula, entregou
sem palavra. A mulher ouviu. Perguntou, indagou, especulou, aconselhou, se comoveu e disse
que Nossa Senhora havia de ajudar e não abriu a bolsa. Qual dos dois
ajudou mais? Donde se infere que o homem ajuda sem participar e a mulher
participa sem ajudar. Da mesma forma aquela sentença: "A quem te pedir um peixe, dá
uma vara de pescar." Pensando bem, não só a vara de
pescar, também a linhada, o anzol, a chumbada, a isca, apontar
um poço piscoso e ensinar a paciência do pescador. Você faria isso, Leitor? Antes que tudo isso se fizesse o desvalido não
morreria de fome? Conclusão: Na prática, a teoria é outra