A bolha de
filtros do Facebook está deixando você cada vez mais burro
ESCRITO
POR FEDERICO
NEJROTTI
1 July 2016 // 08:44 PM CET
Se você está lendo isso agora, considere-se sortudo.
O Facebook anunciou no começo desta semana que
mudará o algoritmo que decide o que cada usuário vê em sua linha do tempo. No
comunicado, o diretor de engenharia da empresa, Lars Barstrom, afirmou que, a
partir de agora, você não perderá nada de seus amigos. Na prática, você deve
ver cada vez mais conteúdo dos seus parças e migas e menos notícias,
reportagens e afins.
As mudanças afetam um dos mais importantes valores das páginas de
empresas e veículos na rede: o “alcance”. Tal índice mostra quantos usuários
verão determinada postagem, ou seja, quantos usuários verão a atualização na
linha do tempo.
Dado que hoje a maior parte dos adultos tem a rede de Zuckerberg como
uma das principais fontes de informação – 62% dos americanos, de acordo com
pesquisa recente da Pew Research – os efeitos podem ser, digamos, muito
limitadores.
A condição criada por meio dessa política muitas vezes é chamada de “bolha de filtros”. Baseia-se na ideia de que
redes sociais que usam algoritmos para definir as atualizações mais importantes
aos usuários tendem a fornecer gradualmente conteúdo que se alinhe aos
interesses e opiniões dos mesmos. A pessoa fica isolada em sua ilha de
preferências.
Tomemos como exemplo a explosão midiática em torno do Brexit, o
referendo realizado no Reino Unido para determinar sua saída da União Europeia:
um usuário a favor do “Fico” no Facebook explicou quão complicado foi para ele
encontrar postagens dos opositores já que, no dia em que o “Deixo” ganhou,
buscou por postagens celebrando a vitória e surgiram poucos resultados.
O Facebook está se tornando uma câmara de eco que nos previne de sermos
confrontados por opiniões com as quais não concordamos
O problema não era só na sua linha do tempo. Ele também usou a busca do
Facebook e não teve sucesso. Não é que não houvesse postagem sobre a grande
vitória do Deixo, mas sim que o Facebook, ao identificá-lo como eleitor do
Fico, não permitia que ele as visualizasse.
O Facebook tem interesse dobrado nessa questão: por um lado, a empresa
precisa poder cobrar quem cria conteúdo e quer mais exposição – veículos
jornalísticos, caso o leitor não saiba, pagam para aparecer mais nas linhas do
tempo das pessoas. Do outro, precisa aumentar o número de interações de
usuários na rede social. Quanto mais gente na própria bolha, melhor.
A prática afeta o conteúdo publicado por páginas públicas, claro. Os
donos delas têm cada vez mais dificuldade em chegar aos usuários que as
curtiram, e as únicas soluções são pagar ao Facebook para impulsionar suas
postagens ou criar conteúdo feito para ser compartilhado. “Se muito do seu
tráfego é resultado de pessoas compartilhando seu conteúdo e os amigos destas
curtindo e comentando, haverá um impacto menor se a maior parte de seu tráfego
vem diretamente de postagens na página”, explicou Backstrom durante o anúncio.
Como o Facebook decide que postagens mostrar aos usuários. Crédito: TechCrunch
CONSCIENTIZAÇÃO
Isso tudo não diz respeito apenas ao gargalo midiático. O público dentro
da bolha se verá cada vez mais fechado dentro de uma esfera de informações
diminuta e separado de quem não pensa como ele.
O Facebook afirma que seu novo algoritmo enfatizará postagens
“informativas”. Você consegue imaginar uma banca de jornais com estes filtros?
Se você é de esquerda, nada de publicações de direita para você. Está do lado
do Trump? Há boas chances de que sua fonte de informação favorita nunca informe
de nada sobre Bernie Sanders – a não ser que o destrua. O mesmo vale para fãs
de Bolsonaro e fãs do PSTU. As notícias vão de acordo com o gosto do freguês.
De certa forma, talvez devamos encarar as redes sociais como verdadeiros
serviços sociais, um bem público – não somente um produto divertido criado por
alguma empresa. O escândalo recente sobre a seção de “Tendências” no
Facebook, mais influenciada por curadoria humana do que a empresa transparecia,
mostrou que as pessoas estão começando a pensar nas maneiras como as notícias
chegam até elas.
Ainda estamos brigando com todas as implicações de um público que se
informa por meio das redes sociais. O fato é que, por ser algo novo, falta
muito para compreendermos tudo isso. Mas, antes de tudo, é bom lembrarmos que a
tal bolha existe – e ela só piora.
Tradução: Thiago “Índio” Silva
TÓPICOS: o ser digital como uma ilha, bolhas, bolha de filtros, facebook, redes sociais, feed de notícias, mark zuckerberg, internet, polarização
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