domingo, 31 de dezembro de 2017

PALESTINA X IRLAELENSE

Na Assembleia Geral da ONU, chefes de Estado de Israel e Palestina falam sobre conflito
Atualidades e Histórias
Os três primeiros dias desta semana final de setembro marcam um dos encontros mais importantes da política internacional. Desde 1946, e sempre nesta época, a Organização das Nações Unidas (ONU) convoca os membros para reunirem-se em Nova York, sede da Organização, para a Assembleia Geral. Um momento que protagonizou fatos marcantes para a própria história mundial pelos discursos, recheados de apoios, denuncias, sugestões e um certo folclore.
O encontro deste ano, no entanto, tem um gosto um pouco mais especial. Em 2015, a ONU completa 70 anos de existência em outubro (24/10), buscando sempre manter firme a frágil paz mundial, algo que a antecessora, a Liga das Nações (1919 – 1942), não conseguiu. Foi a ineficiência da antiga Liga que permitiu que a Segunda Guerra Mundial acontecesse. E, desde então, as mediações de conflitos e outras questões de interesse das nações integrantes tem sido resolvidas na base do persistente diálogo e na paciência, embora muitas delas demorem tempos para se concretizarem.
O ex-ministro do exterior Osvaldo Aranha, presidiu as sessões de 1947, entre elas a que culminou na criação de Israel, em 1948 (Wikipedia)
Como é tradição em cada Assembleia, o representante do Brasil é o responsável pelo primeiro discurso entre os chefes de estado presentes. A tradição não tem uma origem certa, embora diga-se que isto deve-se ao fato de ter sido um brasileiro um dos primeiros presidentes de uma Assembleia Geral, no caso o então ministro do exterior Osvaldo Aranha, que participou na segunda reunião como presidente, em 1947. Naquela sessão, foi votado o chamado Plano para a Partição da Palestina, que culminou com a criação do Estado de Israel, em 1948.
No entanto, não é exatamente esta a raiz deste costume. Há quem diga também que ser o primeiro na Assembleia é uma compensação pelo fato do Brasil ter ficado fora do Conselho de Segurança, posição até hoje pleiteada pelo Itamaraty. Outros dizem que era uma forma de aliviar as tensões entre EUA URSS, no início da Guerra Fria, que começava a desenhar-se. Seja como for, a presidente Dilma Rousseff foi a primeira a falar nesta 70ª edição do encontro, ela que já foi a primeira mulher a abrir uma Assembleia Geral na história, em 2011.
A presidente Dilma Rousseff, no primeiro pronunciamento de chefe de estado na Assembleia. Mantem-se tradição desde 1947 (AFP)
Entre os discursastes, ainda na prévia de abertura do encontro, na sexta-feira última (25/10), o Papa Francisco fez história. Foi a primeira vez que um pontífice discursou na Assembleia Geral. Na fala, Francisco criticou o uso indiscriminado do meio ambiente, a gestão gananciosa da economia global, além de apelar para o fim dos conflitos no Oriente Médio. A passagem na ONU foi uma emenda a visita feita nos EUA na última semana, onde ele também foi o primeiro papa a discursar no congresso americano, em Washington.
Críticas a economia canibal e ao mau uso do meio-ambiente, falas do Papa Francisco, o primeiro pontífice na Assembleia (Reuters)
EUA X Rússia: A Síria como tema - Entre discursos esperados, um dos momentos mais tensos do encontro deste ano ocorreu ainda na segunda-feira (28/10). A velha rivalidade entre EUA e Rússia parece ter voltado a carga, sobretudo no que discursaram os presidentes Barack Obama e Vladimir PutinDuas questões foram essenciais nas falas, a Guerra Civil da Síria e a questão da Ucrânia.
A questão síria foi a mais intensa. Obama e Putin divergiram sobre quem apoiar na resolução do conflito e como agir para termina-lo. Washington é contra a presença de Bashar Al-Assad no governo e tem apoiado opositores moderados na tentativa de tirar o líder sírio do poder, o que seria uma resolução do problema. Já Moscou não pensa que Assad seja a ameaça maior, uma vez que Putin o tem como aliado. O presidente russo chegou a afirmar que não apoiar o governo de Damasco pode ter sido um enorme erro.
Putin e Obama: Apesar do aperto de mão, divergências sobre a Síria e a Ucrânia seguem sendo a tônica (Divulgação)
Um ponto que pode até ter influência na história toda é a velha questão do protagonismo na resolução do embate caseiro dos sírios. Do lado americano, Obama parece ter sido arrastado para este turbilhão contra a própria vontade, uma vez que encabeçar mais guerras não é a preocupação de momento. Ele sabe bem que entrar num conflito como este é colocar falas como retirada de tropas, como foi no Iraque, no léu e enfraquecer a si mesmo e as posições dos republicanos, ainda mais perto de eleições presidenciais.
Já Putin tem outra visão. Colocar a Rússia como líder numa resolução de um conflito tão mortífero e perigoso com tem sido o da Síria é uma chance para recolocar Moscou no foco das atenções do globo, tal como era nos tempos distantes da URSS. A imagem russa pelo mundo está muito arranhada, não só internamente, com a descrença dos próprios russos na economia e nas questões sociais, mais especialmente depois das intervenções do país na Ucrânia, tendo como cume a anexação da Crimeia. O que fez os russos passarem de amigos pacíficos a vilões aos olhos do mundo em questão de dias.
Conflito na Síria: EUA pede saída de Assad para a resolução do problema. Rússia prefere a aliança com líder em Damasco para combater terroristas e rebeldes. Protagonismo é um ponto a se considerar (Reuters)
Putin também sabe que uma intervenção em comunhão com Assad, como acredita, pode ser uma solução ao problema dos refugiados e na derrota do temido grupo Estado Islâmico. Seria a Rússia um bom aliado dos EUA nesta posição, coisa que Vladimir sabe muito bem que sim.
Raul Castro é breve e pede fim do embargo
Ao contrário do irmão, Fidel, que no primeiro discurso em uma Assembleia Geral procurou ser breve numa fala de quatro horas, Raúl Castro demorou menos de 20 minutos para expor as questões que trazia na primeira vez dele no encontro internacional. Desde a Assembleia de 2000, quando o próprio Fidel discursou, a pequena ilha não participava da reunião com o presidente e, depois da reaproximação com os EUA, o discurso de Raul era o mais aguardado.
Raúl Castro pediu, assim como Obama, o fim do embargo a ilha de Cuba. Mas foi além nas “alfinetadas” aos americanos (AFP)
Nas palavras do líder cubano estiveram apoios a presidente Dilma, pedidos pelo combate a fome, as doenças e a pobreza no mundo, opiniões sobre o conflito na Síria e a crise migratória e alertas ao consumismo. Mas o ponto bem tocado foi, justamente, o embargo econômico dos EUA imposto a ilha. Endossado por Obama no discurso anterior, Castro também pediu o fim da medida, que parece estar em vias de desaparecer. Isto se o congresso americano disser que sim.
Mas Raul não fez apenas este singelo pedido aos americanos. Aproveitou para ir mais além. Pediu também para EUA a devolução do território ocupado pelos americanos na Base Naval de Guantánamo, a famosa prisão cubana em mãos de Washington. Exigiu também o fim de transmissões de rádio e TV, ditas por ele subversivas e dez estabilizantes contra a ilha. Ainda aproveitou para alfinetar os novos amigos sobre a questão de Porto Rico, solicitando a independência da ilha do que chamou de dominação colonial. A ilha, com capital em San Juan, é atualmente um território americano.
A polêmica como história no palanque
Mas nem só de fatos atuais a Assembleia é feita. Fatos históricos recheados de simbolismo e polêmica tem sido uma das marcas destas 70 edições do encontro na ONU.
Fidel Castro e Nikita Kruschev, personagens de discursos curiosos na ONU (Reprodução)
A de se falar que muitos dos momentos mais polêmicos tem tido a mão dos tiranos que por lá estiveram. Não só Fidel Castro está neste rol. O líder cubano falou por 4 horas e 29 minutos na sessão de 1960. Naquele mesmo encontro, outro comunista, o líder soviético Nikita Kruschev reagiu enfurecidamente, e com um sapato na mão (literalmente) a fala do representante das Filipinas, que acusava a URSS de ter engolido os países do leste europeu, privando-os de direitos e liberdade.
Em outro momento, nos anos 70, a paz e a guerra estiveram em uma única frase no palanque da Assembleia. Foi em 1974, quando o então líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP)Yasser Arafat, foi convidado a discursar no encontro daquele ano. A presença de Arafat, foi corretíssimo, dois anos após o terrível atentado nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, promovido por membros da própria OLP. Entre as falas do discurso, o líder palestino soltou a frase mais marcante, Venho com um ramo de oliveira em uma mão e a arma de um combatente pela liberdade na outra. Não deixem que o ramo de oliveira caia de minha mão.
Outro que falou e assustou foi ex-presidente venezuelano Hugo Chavez, sempre ácido nas declarações voltadas aos EUA, aberta e agressivamente. Em 2006, Chavez foi direto ao atacar os americanos já na primeira fala do discurso. Ontem o diabo esteve aqui, neste mesmo lugar, ainda tem cheiro de enxofre nesta mesa, onde tenho de falar, disse.
Arafat na ONU: Ramo de oliveira numa mão e arma na outra (Reprodução)
O ex-ditador líbio Muammar Khadafi também adorava a tática de atacar Washington. Na Assembleia de 2009, uma das últimas aparições internacionais do líder tombado na Primavera Árabe, acusou os EUA de ter criado e disseminado a Gripe Suína, além de ter comparado ao Conselho de Segurança da ONU a temerária organização terrorista Al-QaedaNão deveria ser chamado de Conselho de Segurança, deveria ser chamado de ‘Conselho do Terror! ‘, falava.
Tudo indica que terá um acordo digno e definitivo, de uma certa maneira na ONU
A lista de momentos polêmicos foi produzida pela BBC Brasil, e para quem gosta de história, vale a pena ver (e tentar segurar a risada em alguns casos).
“A nossa mão continua estendida para A PAZ”, disse o presidente da Palestina, Mahmoud Abbas, questionando se há, em Israel, alguma liderança que deseja efetivamente alcançar uma verdadeira paz e abandonar a mentalidade da hegemonia, expansionismo e colonização.
O primeiro-Ministro IIsraelense, Benjamin Netanyahu, por sua vez, disse que o conflito entre Israel e Palestina nunca foi sobre assentamentos ou sobre o estabelecimento de um Estado palestino, declarando que “sempre foi sobre a existência de um Estado Judeu […] em qualquer limite”.
O presidente da Palestina, Mahmoud Abbas, e o primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, discursando durante a 71ª sessão da Assembleia Geral. Foto: ONU / Cia Pak
Em seu discurso na Assembleia Geral na quinta-feira (22), o presidente da Palestina, Mahmoud Abbas, solicitou aos líderes mundiais reunidos na 71ª sessão que declarem 2017 como o “ano internacional para acabar com a ocupação israelense na Palestina”.
Ele pediu todos os esforços para pôr fim a décadas de injustiça imposta ao povo palestino, bem como para proporcionar uma oportunidade única à paz, à estabilidade e à coexistência na região.
Abbas declarou que “não há nenhuma maneira de derrotar o terrorismo e o extremismo, de alcançar a segurança e a estabilidade na região sem o fim da ocupação israelense na Palestina e sem garantir a liberdade e independência do povo palestino”.
“A nossa mão continua estendida para a paz”, continuou ele, questionando se há, em Israel, alguma liderança que deseja efetivamente alcançar uma verdadeira paz e abandonar a mentalidade da hegemonia, do expansionismo e da colonização – ou se “irá reconhecer os direitos do povo palestino e acabar com a injustiça histórica infligida sobre ele”.
O presidente disse que os Acordos de Oslo, de 1993, foram destinados ao fim da ocupação e a alcançar a independência do Estado da Palestina dentro de cinco anos, mas Israel os descumpriu e, atualmente, persiste com a ocupação e continua expandindo os empreendimentos dos assentamentos ilegais, que comprometem a realização da solução dos dois Estados com base nas fronteiras de 1967.
“Os assentamentos são ilegais em todos os aspectos e em qualquer manifestação”, disse ele, pedindo que os membros permanentes do Conselho de Segurança não vetem uma resolução sobre os assentamentos de Israel e o terror propagado pelos israelenses. Abbas também destacou que Israel continua em suas tentativas de escapar de uma conferência internacional para a paz, proposta pela França, que recebeu o apoio da maioria dos países.
“Continuamos acreditando que tal conferência levará à criação de um mecanismo e um calendário definido para o fim da ocupação”, disse ele, pedindo apoio para a convocação desta reunião antes do final deste ano.  
“Acreditamos que não há conflito entre nós e conflitos na religião Judaica e seu povo”, - disse Abbas, acrescentando que “o conflito é com a ocupação israelense em nossa terra”.  “Nós respeitamos a religião judaica e condenamos a catástrofe que se abateu sobre o povo judeu na Segunda Guerra Mundial na Europa, e vemos como um dos crimes mais hediondos cometidos contra a humanidade”, continuou.
Ele lembrou ainda que faz 100 anos desde a Declaração de Balfour, em que a Grã-Bretanha deu – sem qualquer direito, autoridade ou consentimento de ninguém – a terra da Palestina a outro povo, afirmando que isso pavimentou o caminho para a catástrofe (Nakba) do povo palestino e para as expropriações e deslocamento de suas terras.
Segundo Abbas, a Grã-Bretanha deve ter a sua responsabilidade “histórica, jurídica, política, material e moral para as consequências dessa declaração”, e pediu que as autoridades se desculpem com o povo palestino devido “às catástrofes, misérias e injustiças que criaram, e ajam para corrigir essa crise histórica e remediar as suas consequências, incluindo através do reconhecimento do Estado da Palestina”.
Conflito ‘nunca foi sobre assentamentos ou Estado palestino’, diz primeiro-ministro israelense
Tomando o pódio da Assembleia Geral logo após Abbas ter discursado, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, por sua vez, disse que o conflito entre Israel e Palestina nunca foi sobre assentamentos ou sobre o estabelecimento de um Estado palestino, declarando que “sempre foi sobre a existência de um Estado judeu […] em qualquer limite”.
“O Estado de Israel está pronto, eu estou pronto para negociar todos os status finais, mas uma coisa que eu nunca vou negociar é o direito a um único estado judeu”, disse ele, convidando o presidente palestino a falar com o povo de Israel no parlamento do país, o Knesset, em Jerusalém, e se oferecendo a falar com o Parlamento palestino em Ramallah.
Netanyahu ressaltou que “a questão dos assentamentos é uma realidade que pode e deve ser resolvida no âmbito das negociações sobre o estatuto definitivo”. Além disso, disse que, quase 70 anos após o renascimento de Israel, os palestinos ainda se recusam a reconhecer os direitos israelenses – “o direito a uma pátria, a um Estado e a qualquer coisa”.
Segundo ele, este continua sendo o verdadeiro cerne do conflito – “a persistente recusa palestina a reconhecer o Estado judeu em qualquer limite”. Ele acrescentou: “O conflito não é sobre os assentamentos. Ele nunca foi”.
“Quando os palestinos finalmente disserem ‘sim’ a um Estado judeu, nós seremos capazes de acabar com este conflito de uma vez por todas. Veja bem, os palestinos não foram apenas presos no passado, seus líderes estão envenenando o futuro”, acrescentou, acusando-os de fazerem lavagem cerebral em seus filhos, com oficiais pedindo que os palestinos “cortem as gargantas de israelenses quando encontrá-los”, disse.
“Este conflito violento acontece porque, para os palestinos, os assentamentos reais estão em Haifa, Jaffa e Tel Aviv”, declarou ele. “Abbas, você tem uma escolha a fazer. Você pode continuar a atiçar o ódio como você fez hoje ou você pode finalmente enfrentá-lo e trabalhar comigo para estabelecer a paz entre nossos dois povos. ”
O primeiro-ministro de Israel também fez críticas às Nações Unidas e ao Conselho de Segurança. “A ONU, que começou como uma força moral, tornou-se uma farsa moral”, declarou ele, citando que, no ano passado, a Assembleia Geral passou 20 resoluções contra Israel e apenas três contra todos os outros países. “E o que dizer da piada do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Todos os anos condena Israel mais do que todos os outros países juntos”, acrescentou.

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