FAÇA O TEU
MELHOR, NA CONDIÇÃO QUE VOCÊ TEM, ENQUANTO VOCÊ NÃO TEM CONDIÇÕES MELHORES PRA V0CÊ FAZER MELHOR AINDA
“Você está fazendo o teu
possível ou o teu melhor? ” Para refletir
“Não é o melhor do mundo. É o teu melhor na condição que
você tem enquanto não tem condições melhores para fazer melhor ainda. Pergunto
de novo, mas não responda ainda, você está fazendo o teu possível ou o teu
melhor? Porque se você ou eu podendo fazer o meu melhor, me contento com o
possível, eu caio num lugar perigoso chamado ‘mediocridade’. Uma pessoa
medíocre é aquela que é morna. Que está na média. Que não é quente e nem fria.
Lembra quando você chegava da
escola com o boletim escrito: 6,0 em português, 5,5 em matemática, 4,0 em
história… e você dizia: ‘deu para passar’. Medíocre – ’Deixa, eu toco a minha
vida’ – Isso é mediocridade. Porque uma pessoa medíocre é aquela que podendo
fazer o seu melhor se contenta em fazer só possível.
Mediocridade é falta de
capricho. Capricho é você fazer o teu melhor na condição que você tem. Exemplo:
minha mãe e eu moramos na mesma rua em São Paulo e às vezes eu passo na casa
dela por volta de cinco da tarde e ela me olha e pergunta: ‘você ainda não
almoçou, né? ’
– E
completa – espera aí que eu vou fazer um negocinho pra você. Ela poderia fazer qualquer
coisa, mas faz um talharim, com azeite. Depois corta um tomate cereja e coloca
por cima. Isso é capricho.
Eu no Paraná, quantas vezes,
caipira, ia até a roça visitar alguém que morava numa casa de pau-a-pique e via
o chão de terra todo varrido – capricho: fazer o melhor na condição que tem
enquanto não tem condição de fazer melhor ainda para não ser medíocre. Na roça
eu pedia para tomar um gole d’água e a mulher pegava uma carequinha de alumínio
toda amassada, mas muito bem areada – passava areia em volta. ‘Ah, mas já é
pobre mesmo’ – Êpa – É pobre, mas é limpinho. Tem gente que é pobre e limpinho
não é. Isso é medíocre.
Tem gente que é medíocre e sua obra é medíocre: ‘ah, mas do jeito
que me pagam; mas eu não tenho condição…’. Há pessoas que em nome da condição,
degradam a ação. Ao invés de ter um trabalho que é concomitante, luta para
melhorar as condições e vai fazendo o seu melhor com aquelas que tem”. – Mario Sergio Cortella.
Às vezes nos deixamos levar pelo imediatismo da
vida e acabamos fazendo tudo às pressas. Sem amor, sem cuidado. Sem perceber
que é possível ir bem mais longe, se decidirmos que nos dedicaremos para isso.
O texto apresentado acima, pode parecer um tanto duro quando fala da
nossa mediocridade, mas talvez seja necessário trazer o incômodo, a dureza
que nos conduz a saída da zona de conforto.
"Os professores são os
únicos adultos que encaram os jovens", afirma Mario Sergio Cortella em
passagem por Caxias
Cortella é professor, filósofo e escritor e é tido como referência no
meio educacional de todo país
Mario Sergio Cortella foi assessor e
chefe de gabinete de Paulo Freire, é licenciado em filosofia, mestre e doutor
em Educação. Foto: Roni Rigon/Agencia RBS
Uma das maiores referências do país em educação, Mario Sergio
Cortella, passou por Caxias no início deste mês para falar com mais de quatro
mil pessoas, entre elas professores, alunos e funcionários da Marcopolo.
Defensor do ensino público, Cortella avalia o ensino politécnico como uma
promessa de boa forma de educar e também entende que os professores são
desrespeitados por serem os únicos com coragem de desafiar os jovens.
Mario Sergio Cortella foi assessor e chefe de gabinete de Paulo
Freire, é licenciado em filosofia, mestre e doutor em Educação. É professor da
PUC/SP há 36 anos, com docência e pesquisa na pós-graduação em Educação e no
Departamento de Teologia e Ciências da Religião, atuando também como
comentarista da Rádio CBN e do Jornal da Cultura.
Leia abaixo trecho da entrevista com o professor.
Pioneiro: De que forma a família pode ser mais participativa em
sala de aula?
Cortella: Não é a família que ajuda a escola a educar, é a escola
que ajuda a família a fazer a escolarização da criança. Escolarização é um
pedaço da educação. Educação é o acompanhamento das escolhas e capacidades do
aluno. É a família que é auxiliada pela escola e não o inverso. A escola não
consegue ter esse papel porque uma família tem dois ou três filhos, enquanto o
professor tem de 30 a 40 alunos.
Pioneiro: E o ambiente escolar se mostra atraente para o convívio
de pais e filhos? Cortella: É difícil generalizar escolas. Cada professor é um,
cada escola apresenta uma realidade.
Pioneiro: E se dividirmos por escola pública ou privada?
Cortella: A escola privada no Brasil é muito restrita, sem
significado até no ponto estatístico, porque 87% das pessoas que estão na
educação básica frequentam escolas públicas. Numa sociedade, 13% não é algo que
a gente dê relevância. Por isso, uma questão séria no Brasil não é escola
pública versus escola privada, e sim escola boa versus escola ruim. Escolas
boas existem em ambos os campos. Mas, objetivamente, a escola privada no Brasil
é absolutamente minoritária.
Pioneiro: Então o senhor é um defensor da escola pública?
Cortella: Claro. Porque é uma instituição republicana, coloca
várias camadas sociais em contato, agrega docentes que têm uma dedicação
intensa, oferece uma condição maior humanitária.
Pioneiro: Enquanto isso, a valorização do professor em escola
municipal é maior que em âmbito estadual, por exemplo.
Cortella: Sim. Isso acontece porque estamos lidando com dimensões
de gestão diferente. Uma coisa é lidar com todos os municípios do Rio Grande do
Sul e outra coisa é lidar com uma cidade. Estado é algo abstrato, cidade não.
Comunidade Caxias do Sul é concreta, o Rio Grande do Sul é apenas um traço no
mapa.
Pioneiro: E além da má remuneração, ocorre ainda
a falta de respeito com os professores... Cortella: Isso acontece tanto
porque nós, professores, somos os únicos adultos que encaram o jovem hoje. As
crianças têm autonomia, fazem a comida sozinha usando o micro-ondas, não falam
mais com os pais. Os pais são reféns das crianças: ela decide onde vai almoçar,
o que a família assistirá na televisão. A primeira pessoa que ela encontra no
dia que pergunta: 'onde está teu caderno? E o uniforme? Pode desligar o
celular?', é o professor.
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