“A eleição do pavor”. É o que está escrito na capa do jornalismo de
quinta categoria da Revista Veja, panfleto ordinário que não leio há quase duas
décadas. Para justificar o título, o periódico traz três chamadas. Na primeira,
assinala: “O mercado se assusta com a paralisia de Alckmin nas pesquisas”. Na segunda,
afirma que os Democratas estariam assustados com a liderança do candidato
Homofóbico, defensor do armamento da população e da pena de morte,
e que promete resolver tudo no Brasil com frases feitas. Na terceira deprecia o
candidato preferido do povo: “Os que acreditam na lei se assustam com a força
de Lula mesmo preso”.
Ao me deparar com a tal Capa,
lembrei-me de uma matéria assinada pelo jornalista André Zanardo, para o site
“Justificando”, cujo título é “A manipulação em 100 capas da REVISTA VEJA”. Na receita da
tramoia jornalística, estariam definidos o certo e o errado; o que nela, não
sai..., seria problema secundário e o leitor já saberia o que fazer ao terminar
de ler uma matéria.
Além disso, todo um processo de
construção do inimigo (no caso Dilma/Lula/PT), numa jogatina em que, ao mesmo
tempo cultiva esperança e medo (mais medo que esperança, diz Zanardo). Na razão
de pano de fundo, um jogo de semiótica (É a teoria geral das representações,
que leva em conta os signos sob todas as formas e manifestações que assumem
(linguísticas ou não), enfatizando a propriedade de convertibilidade recíproca
entre os sistemas significantes que integram), no caso e precariamente conceituado, seria uma
conjugação de palavras e imagens que enderece o leitor a uma conclusão imediata
e premeditada pela revista.
Raios, trovões, fogo, fumaça
alimentariam o imaginário do leitor burro que a segue. A peruca de serpentes na
cabeça de Lula, uma de suas capas, ilustra bem esse roteiro.
Na capa dessa semana a revista deixa
claro o que todos sabem: Alckmin é o candidato do mercado. O mercado que não é
ético nem honesto tem como porta-voz a própria revista. Mas, como diria
Sejumoro, isso não vem ao caso. Ao dizer que os democratas se assustam com o
crescimento de JB (o candidato fascista que não se deve citar o nome), é como
se na democracia desses tais democratas não existisse soberania popular.
Leia-se, a democracia que Veja ajudou
a derrubar, que culminou com a cassação do voto popular por meio de um golpe.
Contraditoriamente, a preocupação dos democratas de Veja é com o candidato que
aglutinou em torno de si o ódio democraticamente disseminado por ela. O mesmo
ódio que permeia o mercado e que hoje está preocupado com o congelamento de Alckmin
- rejeitado até por dona Marluce das cabras. Veja o vídeo:
É curioso
como tudo gira e volta para o jogo de interesses de Veja, que são os mesmos do
mercado e que, portanto, é ela quem está preocupada com o estacionamento do
Alckmin. O tucano, aliás, é cumplice do golpe e hoje está aliado ao tal
“Centrão”, cujos leões “não passam sem carne”, no dizer do fascista JB. Como a
Farsa Jato veio a serviço do golpe (o pretenso moralismo é narrativa de
araque), os mecanismos de eleição e governança são os mesmos.
Desse modo,
JB vai ter que dar carne para os leões, caso Dona Carminha decida a eleição de
2018 no tapetão, ignorando o voto de Dona Marluce. Portanto, JB que quer armar
a população que Veja ensinou a ter medo e nela despertou o interesse por armas,
só pode ser a primeira ou segunda alternativa presidencial de Dona Carminha da
Veja.
Parênteses!
Na Academia Nacional de Polícia, centro de formação de policiais federais, era
comum nas aulas de armamento a seguinte frase: “isto é uma arma e foi feito
para matar” (às vezes, faziam um disparo para assustar o aprendiz de Macabéa).
Lá não disseram, mas aqui eu digo: quem quer se defender/proteger compra
capacete, colete à prova de bala, gradeia a casa, blinda o carro e coisa e tal.
Quem quer ter arma traz enrustida a intenção de matar:
É um
homicida em potencial. Arma é instrumento de ataque e não de defesa. A
propósito é bom lembrar que na democracia de Veja existe a tal bancada da bala,
da bíblia e do boi (esqueçam aqui as cabras de Dona Marluce) que juntas é tudo
mercado. Portanto, o mercado e o ódio juntos formam uma coisa só.
“Os que
acreditam na lei se assustam com a força de Lula mesmo preso”. Essa é a
terceira chamada, na qual Veja mostra sua frustração com seu fracasso depois de
tantas capas atacando Lula: “O desespero da jararaca”, “A vez dele” (Lula), “Os
chaves de cadeira que cercam Lula", “Culpado” (Lula), “Eles sabiam” (Lula
e Dilma), “Vocação autoritária”, “O que falta para Lula ser preso” e, sem
esgotar o rol de insultos, a capa triunfal: “Acabou”. Só faltou um “obrigado,
Sejumoro”.
Como assim,
cara pálida? Ninguém mais que Lula acredita na lei: ele bate reiteradamente às
portas dos tribunais que o ignoram. Os urubus de Dona Carminha Suprema não
estão nem aí para a presunção de inocência, que é direito fundamental e que
direito fundamental é cláusula pétrea. Até a Interpol já desqualificou a Farsa
Jato, pois vê suspeição nos atos da República de Curitiba. Foi Curitiba que
arrumou uma “ficha suja de plástico” para Lula. Afinal de contas, quem são os assustados
crentes em lei que Veja diz estarem preocupados com a força de Lula, mesmo
preso?
A
Constituição Federal foi rasgada ao derrubarem a Dilma Rousseff sem crime. As
Macabéas do golpe realizaram quase 300 prisões ilegais impunemente. Um
magistrado de primeiro grau desobedece uma ordem de desembargador. Um juizeco
(não mais oficiante de um processo) se alia a um desembargador (também já sem
poder jurisdicional no caso) para desobedecer a uma ordem legal.
A PF Macabéa
sucumbe aos embargos telefono-auriculares. O mesmo juizeco foi responsável pela
divulgação ilegal de conversas da Presidência da República e nada aconteceu.
Trata-se do mesmo barnabé judicial que teria confessado perante o Conselho
Nacional de Justiça que agiu fora da lei para “evitar mal maior”...
Fazer tudo
isso e ignorar uma ordem/recomendação da Organização das Nações Unidas seriam
coisas de quem acredita em lei? A Veja, que é mercado, trata como “defensores
da lei” aqueles que as leis violaram para atender o mercado, mercado que vende
bala, e que irá propiciar mais crimes. Seria possível desenvolver vários
raciocínios mostrando que tudo é uma coisa só.
Entretanto,
prefiro dizer que a tal revista está frustrada com os resultados de suas
centenas de tons de ódio que disseminou. O ódio que ela inoculou (ou apenas
despertou) encontrou em JB, o defensor do armamento da população, seu ponto de
apoio. Agora, está perdida porque no fundo no fundo seus editores pareciam
dizer: primeiro a gente desperta o medo e o ódio. Depois, se nada der certo (ou
der certo), a gente arma a população.
Armando Rodrigues Coelho Neto - advogado e
jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da
Interpol em São Paulo
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